EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 100% VIRTUAL!!
No modelo de educação a distância que os brasileiros têm
hoje, todo aluno precisa ir ao polo de sua escola de vez em quando para fazer
prova e atividade laboratorial ou assistir a alguma aula.
Isso vai mudar em breve. Entrou em vigor uma portaria do
MEC, publicada em maio, permitindo que o ensino superior a distância seja
ofertado sem atividades presenciais. Poderão existir universidades brasileiras
cem por cento virtuais.
As regras foram flexibilizadas. Eliminou-se a exigência de
autorização prévia, pelo ministério, para abertura de polos. Agora,
instituições autorizadas a dar cursos a distância terão autonomia para abrir
seus centros físicos. O decreto prevê, porém, que a expansão dependerá dos
indicadores de qualidade.
Instituições privadas de ensino enxergam nisso uma
modernização. Nessa visão, o leque de cursos deve ser ampliado, gerando mais
competição e mais diversidade.
É claro que nem todas as graduações poderão dispensar
encontros presenciais. Em engenharia, biologia, química ou educação física são
exigidas atividades práticas.
A necessidade ou não dessas atividades depende das
Diretrizes Curriculares Nacionais de cada curso. Portanto, para oferecer o
portfólio completo da graduações que têm, grandes grupos devem aproveitar as
novas regras para expandir o número de polos, não para aboli-los.
"Acredito na tecnologia, mas há limites", diz
Josiane Tonelotto, reitora da EAD Laureate, rede de ensino virtual para 12
instituições. Ela lembra que alguns cursos são mais viáveis no formato cem por
cento a distância, como os de gestão, que não exigem práticas sob tutela
direta.
"Sinto que nada mudou com a portaria. Continuo
precisando ter bons polos e atender requisitos de qualidade."
A legislação veio a reboque de avanços tecnológicos que já
permitem a muitos cursos prescindir do espaço físico.
"Antes tínhamos aulas ao vivo transmitidas pelo polo.
Hoje, entregamos o curso diretamente ao estudante, no aparelho que ele
preferir", diz Flávio Murilo de Gouvêa, diretor de educação a distância do
grupo Estácio.
Gouvêa aponta uma barreira a ser vencida: a cultural.
"No EaD o estudante está fisicamente sozinho, por mais suporte e ambientes
virtuais colaborativos que tenha", diz. Para minimizar isso, a Estácio
oferece no primeiro ano atividades extra, presenciais.
Na hora da prova, as barreiras são metodológicas, diz o
diretor. "Já há tecnologias que reconhecem a identidade pelo padrão de
teclagem; é como impressão digital", afirma, sobre métodos usados para
avaliar estudantes ao redor do mundo. "O desafio é saber como o aluno
poderá ter um aprendizado mais cooperativo, de forma que a avaliação individual
fique em segundo plano e todo o percurso seja avaliado."
Muitos alunos não abrem mão dos encontros presenciais. Como
Douglas Oliveira, 32, que está no último semestre de desenvolvimento de
sistemas na Universidade Cruzeiro do Sul. Por trabalhar nove horas por dia e
querer passar um tempo com os filhos, ele não teria como fazer curso
convencional. Optou pelo semipresencial.
"Estudo em casa todo dia e, aos sábados, tenho aula no
polo." Assim, mantém contato com colegas e tutores.
Na contramão da tendência, a PUC-Rio deixou de oferecer
graduações a distância. "Apostamos num modelo híbrido: uma parte a
distância e uma parte com o aluno na sala", diz Gilda Helena Bernardino de
Campos, coordenadora de EaD na instituição.
Segundo ela, um bom curso virtual demanda muitos tutores bem
formados, o que implica alto custo. "Não pode ser só vídeo e
questionários. A faculdade tem que formar do ponto de vista do cidadão, dos
princípios."
O grande risco da nova portaria seria promover a
massificação do ensino superior. "Democratizar é abrir a possibilidade
para que todos tenham formação completa. A massificação é só abrir vaga".
A pesquisadora Raquel de Almeida Moraes, coordenadora do EaD
da UnB (Universidade de Brasília), não acredita que um curso totalmente virtual
promova a mesma qualidade daquele com alguns encontros presenciais.
Moraes defende que haja sempre o apoio de um polo.
"Evita que as pessoas fiquem lunáticas, que se desconectem da
realidade", afirma.
Na experiência da estudante Ariane Castro, 38, a conexão com
o mundo real pode se dar mesmo sem haver espaço físico, com atividades práticas
ocorrendo diretamente na comunidade. Ela cita como exemplo um projeto que
implantou com colegas, em uma casa de apoio a crianças com HIV.
Para essa estudante, que é psiquiatra em Salvador e cursa
pedagogia na Unifacs é possível estabelecer "relacionamentos
profundos" com colegas e professores ainda que toda a comunicação seja
feita por meios virtuais.
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