No aniversário de 25 anos da queda, conheça 25 fatos sobre o Muro de Berlim
A queda do muro de Berlim, um marco do fim da Guerra Fria e símbolo do desmantelamento do bloco socialista do Leste europeu, completou 25 anos no último dia 9 de novembro. Conheça a seguir 25 fatos sobre a barreira que dividiu a Alemanha por 28 anos:
1. A Alemanha Oriental surgiu antes do Muro de
Berlim: A Alemanha Oriental – conhecida em português pela sigla RDA (DDR, em
alemão) – surgiu anos antes da construção do muro. Em 7 de outubro de 1949, o
novo país foi fundado a partir dos territórios controlados pela União
Soviética (após a divisão feita ao fim da Segunda Guerra entre os vencedores).
Um contraponto direto ao lado controlado por EUA, França e Reino Unido, que,
em 16 de setembro do mesmo ano, arquitetavam a criação da República Federal da Alemanha
(RFA, ou BRD, em alemão). No lado oriental, a capital era Berlim; no ocidental,
Bonn.
2. Mesmo com duas Alemanhas, Berlim continuava sem
divisão física: A cidade foi dividida em quatro partes entre os vencedores da
Segunda Guerra: EUA, Reino Unido e França a Oeste, União Soviética, a Leste.
Mesmo após a criação das duas Alemanhas, havia certa liberdade de movimento
entre as zonas, por mais que o controle (especialmente de Leste a Oeste)
tenha sido aumentado gradativamente. O metrô, com várias linhas que iam de um
lado a outro, circulava normalmente.
3. Stalin tentou unificar as Alemanhas: Em março
de 1952, o então líder soviético, Josef Stalin, enviou uma proposta
aparentemente boa para as forças capitalistas: tratado de paz e eleições livres
em uma Alemanha reunificada. A condição era que o novo país não poderia entrar
em nenhuma aliança militar contra os antigos ocupantes. O então chanceler
alemão ocidental, Konrad Adenauer, recusou o plano, o que muitos historiadores
veem hoje como um erro, já que poderia, em tese, ter evitado os 37 anos
seguintes de divisão. Mas a proposta de Stalin tinha seus “poréns”: ela fazia
com que a nova nação renunciasse a antigos territórios prussianos a Leste – o
que tinha potencial para acabar com a força política de Adenauer.
4. Stalin autorizou a criação de um “muro
virtual”: Com a recusa de Adenauer, Stalin chamou a direção da Alemanha
Oriental (notadamente Walter Ulbricht, primeiro-secretário do Comitê Central
do Partido Socialista Unificado da Alemanha – SED, em alemão – e quem
efetivamente mandava no país) para uma reunião em Moscou. O líder soviético deu
dois conselhos: “organizar o próprio Estado” e “reforçar a proteção da
fronteira” entre os dois países. Foi o suficiente: em 26 de maio de 1952, os
líderes orientais fecharam a fronteira entre as zonas e estabeleceram
perímetros máximos de circulação de estrangeiros dentro da área sob controle
soviético – em uma espécie de “muro virtual”.
5. Alemanha Ocidental ganhou soberania no mesmo
dia do fechamento da fronteira: No mesmo 26 de maio de 1952, um tratado dava
soberania (mesmo que relativa) à Alemanha Ocidental, permitindo que ela
entrasse na Otan (Aliança do Tratado do Atlântico Norte) três anos depois.
6. O lugar para fugir era... Berlim: A fronteira
interna entre os dois países havia sido fechada, mas ir de um lado para o outro
não era muito difícil: bastava viajar a Berlim. A cidade continuava dividida,
mas atravessar de uma zona a outra não era tão complicado. Isso preocupava Ulbricht.
7. Morte de Stalin atrasou construção: Em janeiro
de 1953, Stalin havia acertado com Ulbricht a colocação de guardas na
fronteira entre as zonas soviética e dos outros ocupantes em Berlim. Segundo a
historiadora Hope M. Harrison, professora da George Washington University, no
livro “Driving Soviets up the Wall”, os homens seriam colocados para “acabar
com o acesso descontrolado a Berlim Oriental a partir dos setores ocidentais”
e, principalmente, vice-versa. Frederick Taylor, autor de “Muro de Berlim”,
uma das obras mais importantes sobre o tema, afirma que isso era,
basicamente, “a premissa de uma fronteira fortificada em Berlim”. Em 1º de
março, no entanto, Stalin sofreu um derrame, morrendo no dia 5. O novo
governo soviético, então, engavetou os planos para a capital da RDA.
8. Fugas para Berlim Ocidental ajudaram o governo
da RDA a decidir pela barreira: Mesmo com controles cada vez mais rígidos, o
número de pessoas que atravessavam da zona soviética para a zona controlada
pelos capitalistas só aumentava. Em maio de 1961 (ano da construção do muro),
17.791 haviam fugido para o Oeste; em junho, 19.198; só nas duas primeiras
semanas de julho, 12.578. Até o fechamento da fronteira, o número total
superava 870 mil.
9. “Ninguém pretende construir um muro”: Walter
Ulbricht ficou famoso por essa frase, dita durante uma entrevista coletiva à
imprensa em 15 de junho. Na conversa com os jornalistas, ele havia deixado
claro que, assim que Berlim saísse do controle das forças de ocupação, o SED
assumiria o controle de todas as rotas aéreas e terrestres que tivessem como
origem ou destino a capital Oriental. Na entrevista, uma repórter do jornal
Frankfurter Rundschau, da Alemanha Ocidental, perguntou a UIbricht: “Em sua
opinião, a criação de uma cidade livre [no caso, Berlim sem ocupação]
significa que a fronteira do Estado ficará no Portão de Brandemburgo?” O líder
alemão oriental respondeu:
“Depreendo de sua pergunta que existem na
Alemanha Ocidental pessoas que gostariam que mobilizássemos operários da RDA
para construir um muro. Não tenho conhecimento de qualquer intenção neste
sentido. Os operários da construção civil em nosso país estão ocupados
principalmente na construção de casas, e suas forças são completamente
consumidas nesta tarefa. Ninguém pretende construir um muro”.
10. Barreira foi construída de um dia para o
outro: 1 hora da manhã, 13 de agosto de 1961, domingo: sob o comando do então
secretário de Segurança do Comitê Central do SED e futuro líder da Alemanha
Oriental, Erich Honecker, soldados foram posicionados a cada dois metros ao
longo de toda a fronteira interna de Berlim. Enquanto isso, outras tropas
cercavam a parte ocidental com arame farpado e mais bloqueios. A iluminação
nas ruas próximas foi desligada enquanto o trabalho era feito. Segundo o
historiador Frederick Taylor, 68 dos 81 pontos de cruzamento entre as zonas
soviética e as outras foram fechados, além das 193 ruas que atravessavam as
fronteiras. Linhas de metrô (U-Bahn) e de trem (S-Bahn) foram interrompidas.
Às 6h, Berlim amanhecia fisicamente dividida.
11. Nem o prefeito de Berlim sabia do fechamento
da fronteira: A construção da barreira física pegou todo mundo de surpresa:
Washington, Londres, Paris, Bonn e... o então prefeito de Berlim, Willy
Brandt. No dia anterior, de forma quase premonitória, Brandt havia feito um
discurso em Nuremberg, ao sul da Alemanha Ocidental, durante a campanha
eleitoral para a chancelaria do país (cargo para o qual era candidato). O
político disse, se referindo ao número de pessoas que fugiam da porção
oriental: “Eles temem que as malhas da cortina de ferro se fechem
definitivamente. Pois receiam ser encarcerados numa enorme prisão. Pois sentem
a terrível angústia de que venham a ser esquecidos, descartados, sacrificados
no altar da indiferença e das oportunidades perdidas...”.
12. Após o discurso, Brandt pegou um trem noturno
para a cidade de Kiel, ao norte: às 5h da manhã, ele foi acordado com uma
mensagem urgente do chefe de gabinete: o Leste estava fechando a fronteira. O
prefeito estava de volta a Berlim já na hora do café da manhã.
13. EUA, França e Reino Unido evitaram confronto:
Recebida até com certo alívio pelos Estados Unidos, a notícia da divisão da
cidade provocou menos reações das forças dos países capitalistas do que
esperava o prefeito Brandt. A cidade tinha um mandatário, mas eram os
comandantes militares das potências de ocupação que ditavam os rumos. Brandt
foi ao encontro da Kommandatura (como era chamado o grupo, sem representante
soviético desde 1948) para discutir a situação e saiu decepcionado: por mais
que eles estivessem solidários, só decidiram mandar patrulhas adicionais para
as fronteiras após a reunião. Além disso, forças de segurança dos três países
afastaram berlinenses ocidentais que tentavam ajudar orientais a ultrapassar a
recém-construída barreira. Aconteceu, após a construção, um reforço na
presença de tropas em Berlim, mas não houve uma reação militar de nenhum membro
da aliança.
14. Muro dividiu ruas ao meio: Por conta da
divisão estabelecida após a Segunda Guerra Mundial, havia determinadas ruas em
que a zona soviética, por exemplo, terminava literalmente no meio da pista.
Com a construção da barreira física entre as áreas, vizinhos foram, de repente,
separados e impedidos de atravessar de um lado para outro. O caso da Bernauer
Straße (rua Bernau), no bairro de Prenzlauer Berg, foi um dos mais notáveis:
ela foi partida ao meio. Atualmente, no local há um memorial do muro.
15. Muro dividiu o metrô ao meio: Além de todos os
problemas inerentes à divisão repentina de uma cidade, situações curiosas
acabaram sendo criadas. Como dividir o metrô, por exemplo? Havia linhas que
saíam de Berlim Ocidental, entravam na RDA e voltavam para o setor dos outros
aliados (a linha existe até hoje e liga o norte ao sudeste da cidade). A
solução foi fechar as estações de Berlim Oriental sem interromper o tráfego de
trens, o que provocou o surgimento de estações fantasmas, onde não havia parada.
Elas eram fortemente vigiadas e protegidas até quanto a uma possível fuga dos
guardas que cuidavam do local. Algumas estações foram simplesmente muradas por
dentro.
16. Muro cercou bairros e criou “ilhas”
capitalistas na Alemanha Oriental: A divisão entre as potências ocidentais e os
soviéticos não se restringiu ao meio da cidade. Bairros mais afastados sob
domínio dos países capitalistas foram praticamente cercados pelo Muro e
viraram ilhas dentro do território oriental. No total, foram criados 12
enclaves. Um desses lugares é um pacato bairro chamado Steinstücken (do
alemão “pedaços de pedra”), onde hoje não moram mais do que 300 pessoas. Após
uma troca de terras entre as duas Alemanhas, foi aberta uma estradinha que
ligava a região a Berlim Ocidental – devidamente margeada pelo muro.
17. Número de mortos tentando atravessar muro até
hoje é incerto: Até hoje, pesquisadores não conseguem fechar um número
preciso de quantas pessoas tentaram atravessar o Muro e morreram, muito porque
o governo da RDA (que chamava a barreira de “muro de proteção antifascista”)
evitava divulgar as mortes – que eram sempre um constrangimento no resto do
mundo. Uma pesquisa da Universidade de Potsdam, em 2011, fala, no entanto, em
136 mortes causadas por tiros disparados por guardas da fronteira. Só que
esse total já foi revisto: dois anos depois, o número subiu para 138.
O caso mais famoso é o do jovem Peter Fechter,
que tentou atravessar o muro aos 18 anos, em agosto de 1962, junto a um amigo.
Na hora em que os dois subiam a primeira barreira de arame farpado, os guardas
começaram a atirar. Fechter foi baleado em uma artéria da perna e ficou
sangrando e pedindo por ajuda até morrer. Ninguém, nem do lado ocidental, nem
do oriental, foi ajudá-lo. Uma hora depois, o jovem faleceu e foi
“recolhido”. O constrangimento provocado pelo caso – fartamente fotografado –
fez com que a RDA enfrentasse protestos e mudasse as regras, autorizando
“atendimento imediato” em casos semelhantes.
18. O muro não era só um muro, mas pelo menos
dois: Com o passar dos anos, o muro foi se sofisticando. No final, havia, pelo
menos, um muro de contenção, duas cercas, uma barreira antiveículos, arames
farpados e torres de observação. Essa área entre os muros ficou conhecida como
“faixa da morte”: o objetivo era dificultar ao máximo a passagem para o outro
lado.
19. Economia ajuda a explicar a queda: A Alemanha
Oriental entrou nos anos de 1980 ainda como grande potência do bloco
socialista, mas com a economia desandando. Junte-se a isso uma onda
reformista, que se iniciou na Polônia, e podem-se ter algumas razões para o
fim da RDA. Um dos “czares” econômicos da Alemanha Oriental afirmava que, em
1989, se o padrão de vida da população não fosse reduzido em 30%, o país não
conseguiria fechar as contas do ano. O muro caiu antes, entretanto.
20. Um piquenique na Hungria tirou o primeiro
tijolo do Muro de Berlim: Em agosto de 1989, Áustria e Hungria fizeram um
piquenique exatamente na fronteira entre os dois países. Foi a oportunidade
para que vários alemães orientais fugissem para o lado ocidental.
21. Erro de comunicação provocou abertura
surpresa da fronteira: Em 9 de novembro de 1989, o governo da RDA
recém-empossado (com Egon Krenz no lugar de Erich Honecker no comando do país)
tentava controlar as seguidas manifestações por mudança. Em uma coletiva de
imprensa, o então porta-voz do governo, Günter Schabowski, anunciou que
qualquer cidadão poderia atravessar a fronteira da Alemanha Oriental sem
autorização prévia. O anúncio foi tão surpreendente que, efetivamente, os
jornalistas que estavam no local não entenderam o que estava acontecendo e, de
acordo com Taylor, precisaram fazer uma pausa para um café para pensar. A
questão é que a medida só valeria a partir do dia seguinte — o que Schabowski
não sabia. Ele acabou dizendo que a norma entraria em vigor imediatamente.
Os jornalistas não sabiam o que fazer, mas, como a
coletiva era transmitida ao vivo, a população entendeu bem o que estava
acontecendo. Foi o suficiente para que uma multidão, antes mesmo do término da
entrevista, já se aglomerasse em frente aos postos de controle em Berlim. Sem
conseguir segurar o público, os guardas liberaram a passagem. Era o fim do
muro.
22. Líderes mundiais não esperavam abertura: Por
mais que uma série de protestos já tomasse a Alemanha Oriental (em especial
nas cidades de Berlim Oriental e Leipzig), não se acreditava que a RDA tivesse
as fronteiras abertas.
No dia da queda, o chanceler da Alemanha
Ocidental, Helmut Kohl, nem em Bonn estava: o político participava de um jantar
com o novo governo reformista da Polônia em Varsóvia. Informado da situação,
interrompeu o banquete e correu para a Alemanha.
23. Muro dos anos 2000 teria barreiras de
micro-ondas e sensores sísmicos: O governo da Alemanha Oriental acreditava que
o muro iria durar ainda muito tempo. Por isso, sempre tentava melhorá-lo. No
começo de 1989, Berlim Oriental começou a estudar avanços tecnológicos para a
construção, como barreiras de micro-ondas e sensores sísmicos que detectariam
movimentos. A ideia era tornar o muro mais “humano” e diminuir os casos
fatais entre os que tentavam atravessar o obstáculo.
24. Um quarto de século depois, muro virtual ainda
existe: A Alemanha virou um só país em 1990, mas, até hoje, sente os efeitos
da reunificação, em um processo que envolveu a transferência da capital de
Berlim para Bonn. O que foi então comemorado, hoje, provoca sentimentos de
nostalgia entre os antigos moradores de cada um dos lados, criando uma espécie
de “muro virtual”: seja nos estilos de construção dos bairros (o modelo
socialista domina a paisagem das cidades a Leste), seja nos hábitos das
pessoas. Isso abriu margem para um preconceito de ambos os lados: os “Ossis”
(ao alemão Ost, “Leste”) reclamam dos “Wessis” (de West, “Oeste”), que
reclamam dos “Ossis”.
25. Nas comemorações dos 25 anos, muro foi
“reerguido”: Desde o começo do ano, a Alemanha lembra o muro com diversos
eventos, mas o ápice foi no dia 7 de novembro: a barreira foi “reconstruída”
com balões de luz. A instalação percorreu 15 km do trajeto onde ficava o muro.
(Opera Mundi).
Por Rafael Targino
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