Presidente Júlio Pinheiro fala sobre área Itaqui-Bacanga em seminário que debateu São Luís
O presidente
do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Estado do Maranhão
(SINPROESEMMA) participou, na sexta-feira (12) do I Seminário Debatendo a
Cidade no Contexto Contemporâneo. Pinheiro abordou a origem da área
Itaqui-Bacanga, a partir da transferência de moradores do bairro Goiabal, área
periférica nas imediações do Cemitério do Gavião.
O I Seminário
Debatendo a Cidade no Contexto Contemporâneo, realizado pela Universidade
Federal do Maranhão e Departamento de geociências/UFMA, com apoio da FAPEMA e
da ONG Cultivar – Consultoria em Desenvolvimento Sustentável, reuniu, nos dias
11, 12 e 13, no Auditório Central da UFMA, pesquisadores que se dedicam a
estudar São Luís dos pontos de vista social, econômico, urbanístico e
arquitetônico, além de moradores, lideranças que conhecem a história da cidade,
dilemas e caos urbano.
Com o objetivo
é tornar a Ilha de Upaon-Açu um lugar melhor para viver, o debate das políticas
públicas, violência, gargalos e outros aspectos foram discutido por vários
palestrantes, como o arquiteto e urbanista Ronald Almeida, a professora do
Departamento de Geografia da UFMA, Ediléa Dutra Pereira, o empresário do setor
de turismo, Nan Sousa, entre outros.
O presidente
do SINPROESEMMA, Júlio Pinheiro, é morador da área Itaqui-Bacanga desde 1976, e
faz parte da estatística dos baixadeiros do Vale do Pindaré, afastados de suas
raízes pelos grandes projetos que entraram no Maranhão, empurrando comunidades
tradicionais da região para a periferia da capital.
Historiador,
Pinheiro contou que as primeiras ocupações na região Itaqui-Bacanga aconteceram
quando José Sarney era governador do estado. Na época, um incêndio no bairro
Goiabal, em 1968, deixou os moradores sem casa. Um providencial deslocamento
compulsório, obrigou-os a se mudar para o outro lado ainda inexplorado da
cidade São Luís, após o Rio Bacanga.
O deslocamento
compulsório desses moradores da periferia do Centro de São Luís tinha a
intenção de criar condições que atendiam ao projeto de desenvolvimento da
capital maranhense e do estado maranhense idealizado por Sarney, nos anos 60,
dentro de uma lógica de atração de grandes projetos. “Quem mais foi agredido
por esses projetos foram as comunidades tradicionais. O incêndio no Goiabal
provocou a erradicação da periferia na área próxima do Centro de São Luís e
coincide com a construção da Barragem do Bacanga”, comentou Pinheiro, que se
tornou um ativista social da área Itaqui-Bacanga, que hoje reúne mais de 250
mil moradores em mais de 58 bairros.
Pinheiro
comentou que o bairro iniciou debates para que a área se tornasse independente
por causa da deficiência de representação do bairro nos espaços de decisão
política.
Sobre os
problemas que o eixo Itaqui-Bacanga enfrenta na atualidade, Pinheiro destacou a
falta de regularização fundiária: “Quem mora lá, não tem, até hoje, o documento
oficial de posse”. O presidente do Sindicato citou também problemas decorrentes
da má distribuição dos impostos arrecadados, a falta de exploração do turismo,
apesar de o bairro possuir belas áreas de lazer, como as praias do Amor e da
Guia, o sítio Tamancão, onde está localizado o estaleiro-escola, por exemplo.
Criticou que
apesar de possuir número de habitantes proporcional a uma cidade e sediar
importantes projetos industriais, a região Itaqi-Bacanga não tem uma escola
técnica estadual, não tem escola de tempo integral, creches públicas. Em
consequência disso, questionou os benefícios desses grandes projetos para as
comunidades que hoje ocupam. “Só agora o IFMA [Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Maranhão] instalou duas salas”, frisou Pinheiro.
Ele comentou
também que os moradores da área não se surpreendem com os indicativos de
agravamento da criminalidade em São Luís, pois convivem com altos de índices de
violência desde que o bairro surgiu, a partir, inclusive, do deslocamento
obrigatório dos moradores de suas comunidades de origem. O presidente do
Sindicato salientou que sua “visão é de que a área Itaqui-Bacanga é São Luís,
não está apartada do resto da cidade”.
Ao responder
pergunta sobre o ensino da Geografia sem base na realidade do local onde a
comunidade escolar está inserida, Pinheiro afirmou que “não se constrói um
sistema de educação sem interação com o local”.
Ele
acrescentou que o debate dos planos estaduais e municipais de educação se
apresenta, em 2015, como um grande desafio para a comunidade escolar: “O
Maranhão é o segundo estado a aprovar seu Plano Estadual de Educação. Agora,
além e planejar a partir do diagnóstico dessa realidade, é preciso perseguir
essa abordagem na escola e numa perspectiva mais geral, a partir daí”.
A coordenadora
do seminário, Kátia Borgneth, explicou que a intenção do evento é apresentar
contribuições ao processo de reflexão e construção do direito à cidade e que
esse foi apenas o primeiro de outros seminários.
Um passeio
turístico à área Itaqui-Bacanga encerrou a programação do I Seminário Debatendo
a Cidade no Contexto Contemporâneo. A ideia é que os próximos seminários
abordem outras comunidades da capital.
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