SAÚDE:Os Vírus podem ser usados no tratamento de doencas cancerigenas ?
Pesquisadores
de Minnesotta, nos Estados Unidos, conseguiram demonstrar que a manipulação do
vírus do sarampo em uma técnica chamada virusterapia pode ser eficaz no combate
contra o mieloma múltiplo, um tipo de câncer que atinge as células plasmáticas
da medula óssea. A virusterapia é uma técnica onde o câncer é destruído com
utilização de um vírus que infecta e mata as células cancerosas, poupando os
tecidos normais. Os resultados foram divulgados em edição de maio do periódico
“Mayo Clinic Proceedings”.
De acordo com
o periódico, uma paciente de 49 anos diagnosticada com um tumor na testa e com
o mieloma múltiplo recebeu uma dose intravenosa do vírus do sarampo conhecido
como MV-NIS, seletivamente tóxico às células de plasma do mieloma.
A forte dose
do vírus do sarampo manipulada em laboratório teria eliminado pela primeira vez
o câncer da paciente. A dose utilizada no estudo continha 100 bilhões de
unidades infecciosas do vírus do sarampo. Uma dose normal de vacina do sarampo
contém 10 mil unidades infecciosas.
Apesar de
apresentar efeitos colaterais como fortes dores de cabeça, o tumor na testa
desapareceu e a medula ficou livre do mieloma. A remissão teria durado nove
meses e, assim que o tumor na testa começou a reaparecer, os médicos o trataram
com radioterapia local. A paciente continua fazendo acompanhamento para
garantir que está livre do câncer.
O
hematologista Stephen Russell, co-desenvolvedor da terapia, disse na publicação
acreditar que essa possa se tornar uma cura de aplicação única. “Temos aqui um
tratamento que você aplica uma vez e o efeito pode ser a remissão de longo
prazo do câncer”, disse Russell.
Contudo, o
oncologista Evanius Wiermann, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia
Clínica (SBCO), deixa claro que este ainda se trata de um tratamento
experimental. “O que foi reportado foi um relato de caso individual e que não
mudará a prática diária, mas que serve para levantar uma hipótese a ser testada
em um futuro”, explica.
Uma segunda
paciente acompanhada no estudo não obteve resultados tão satisfatórios. A outra
paciente, que tinha tumores nas pernas, não conseguiu erradicá-los com a
terapia. As duas pacientes, que já tinham sido expostas ao sarampo no passado,
foram as primeiras pacientes a receberem a mais elevada dose possível do
tratamento, que em doses menores inferiores não se mostrou efetivo.
O oncologista
conta que é preciso tomar cuidado com uma possível empolgação com resultados
iniciais de pesquisas. De acordo com ele, de cada 100 novas moléculas ou
tratamentos para uma doença oncológica, apenas cinco chegam a ser submetidos a
estudos clínicos mais avançados. Dentre esses cinco, apenas um é efetivamente
incorporada ao mercado. “Ou seja, 99% são descartados no meio do caminho, seja
por toxicidade ou por falta de eficácia comprovado”, conta Wiermann.
Para
demonstrar como o processo de desenvolvimento e aprovação de uma pesquisa pode
ser complexo, Wiermann conta que uma pesquisa de tratamento do câncer
geralmente começa em estudos pré-clínicos, ou seja, sendo testado em animais. A
partir daí, se for demonstrado benefício, esse tratamento é encaminhado para um
tratamento clínico dividido em três fases. “Inicia-se por um estudo de fase 1,
que avalia a dose e segurança do medicamente, depois a fase II, que avalia a
eficácia e termina em uma fase III que compara este tratamento ao padrão para
aquela doença no momento e, se for melhor ou igual, passa a ser uma nova opção
de mercado”, explica.
Outros
tratamentos já foram apresentados
De acordo com
Wiermann, existem poucos tratamentos virais em oncologia. Um deles seria o
T-VEC (virus talimogene laherparepvec), um tratamento baseado em injetar o
vírus da herpes diretamente em lesões cutâneas de melanoma para promover a
redução deles.
O tratamento é
uma das mais recentes inovações na área e foi apresentado na edição de 2013 do
Congresso Anual da Sociedade Norte-americana de Oncologia Clínica (Asco),
principal evento da área em todo o mundo, mas ainda não é aprovado no Brasil ou
nos Estados Unidos.
Wiermann explica
que nesse tipo de tratamento, somente o tumor é contaminado. “É a primeira
imunoterapia viral para o tratamento do melanoma. Este é um avanço muito
interessante e certamente bem maior do que o resultado obtido com o vírus do
sarampo, que se trata de uma situação muito mais pontual”, explica.
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