Novos métodos transformam ensino de matemática para alunos com deficiência
Os desafios do
ensino de matemática para pessoas com deficiência é um dos temas que permeiam
as pesquisas realizadas pela professora Edna Zuffi no Instituto de Ciências
Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos.
Abordagem
personalizada, sensibilização e mobilização da família são palavras-chaves
nesse contexto, segundo a professora, que colabora em dois laboratórios no
Instituto: o de Ensino de Matemática (LEM) e o de Educação Matemática (LEMa),
coordenados pela professora Miriam Utsumi.
De acordo com
a legislação vigente no País, são consideradas pessoas com deficiência aquelas
que possuem um distúrbio de caráter permanente. Encaixam-se nessa definição as
pessoas com Síndrome de Down e com deficiências físicas como cegueira, surdez,
paralisia cerebral, paraplegia, entre outras.
Há, ainda, os
alunos superdotados (com altas habilidades) e os portadores de Transtornos
Globais do Desenvolvimento (TGD), que afetam as habilidades de socialização, de
comunicação e de interpretação do outro, como, por exemplo, os autistas, que
demandam atenção especial.
Para aprimorar
o ensino destinado a esse público-alvo, a professora do ICMC destaca que o
primeiro passo é garantir o acesso à informação: “O professor deve conhecer o
que a lei garante, o que o governo oferece e onde conseguir materiais, como
recursos computacionais, softwares, materiais em braile, com cores
diferenciadas, transcrições em áudio, etc.”
Em 2001, o
Conselho Nacional de Educação (CNE) estabeleceu uma resolução que obriga as
escolas de ensino regular a aceitarem alunos, independentemente de serem
pessoas com deficiência.
Desde então,
aumentou a demanda por professores qualificados para atender essa nova
realidade. Edna explica que, como a lei é recente, a grande maioria dos
professores ainda estão despreparados e falta infraestrutura (como recursos,
salas apropriadas e profissionais de apoio) na maior parte das instituições de
ensino.
A professora destaca que há treinamento sendo
oferecido pelo Ministério da Educação, mas que seu alcance ainda precisa ser
ampliado.
Desde 2012, os
alunos do ICMC, do curso de Licenciatura em Matemática, podem se matricular em
uma disciplina optativa focada em preparar o futuro professor para desenvolver
o conteúdo escolar de matemática com os alunos com deficiência. A disciplina
'Ensino de Matemática para Alunos com Necessidades Especiais' busca ensinar
algumas ferramentas específicas.
“O futuro
professor de matemática que optar por cursar essa disciplina não será um
especialista, porém terá noção e visão da inclusão do ensino de matemática para
esses alunos com necessidades especiais”, esclarece Edna.
Ao cursar a
disciplina, os futuros professores têm a oportunidade de examinar a literatura
e legislação disponíveis sobre a temática da inclusão escolar e relacioná-la a
questões específicas do ensino e aprendizagem de matemática nos níveis
fundamental e médio.
Entre os
assuntos abordados está a necessidade de que o professor desenvolva a
habilidade de agir de acordo com as características individuais desses alunos.
“O método de ensino que será utilizado pelo professor dependerá da forma como o
aluno consegue interagir e o trabalho pode se tornar mais difícil quando
falamos de pessoas com mais de um transtorno”, pontua a professora.
A pesquisadora
do ICMC relata que, muitas vezes, por não saber lidar com a pessoa com
deficiência, o professor acaba não desenvolvendo a atividade pedagógica que
deveria ser realizada e deixa esse aluno apenas cumprindo uma tarefa de forma
não direcionada como, por exemplo, pintar ou desenhar sem um propósito.
Além disso, ela
destaca que é preciso desenvolver a capacidade de sensibilização dos
professores: “Trabalhar apenas com conteúdo matemático, muitas vezes não é o
melhor caminho. O professor deve ser sensível para analisar as condições
intelectuais de cada estudante, independentemente da sua idade, para
compreender o que é possível ser realizado
e ampliar os ganhos no desenvolvimento da autonomia do aluno”.
Outro fator
importante na hora de ensinar matemática às pessoas com deficiência é a
participação da família. “A família deve acompanhar e participar do
desenvolvimento da criança porque, isoladamente, o professor não consegue
identificar a necessidade do estudante”, reforça a pesquisadora.
Ainda segundo
a professora, umas das grandes dificuldades do profissional é que, às vezes,
nem o núcleo familiar tem o diagnóstico exato do distúrbio que afeta o aluno.
Nesses casos,
é ainda mais difícil para o professor realizar seu trabalho e a relação
estreita com esse núcleo se torna mais fundamental, para que seja dada
continuidade ao trabalho de desenvolvimento da criança ou adolescente, também
fora da sala de aula.
Fonte:
Empresa
Brasil de Comunicação
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