PEC 241 torna Plano Nacional de Educação inviável. Há 1.072 ocupações em protesto
São Paulo – A Proposta de Emenda
à Constituição (PEC) 241, que deve ser votada nesta semana em segundo turno na
Câmara dos Deputados e que congela por 20 anos os investimentos sociais do
governo federal, representa uma ameaça à educação, pois impede a implementação
do Plano Nacional de Educação, documento de Estado com 20 metas para o setor
nos próximos dez anos. Como resposta à proposta do governo Michel Temer,
estudantes iniciaram um movimento de ocupação de escolas, universidades e
institutos federais que chegou hoje (24) a 1.072 localidades, segundo o último
balanço, divulgado às 16h30, pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas
(Ubes).
Para alcançar as metas do Plano Nacional de
Educação – que incluem universalizar a educação infantil, o ensino fundamental
de nove anos e o ensino médio; oferecer educação integral para 50% das escolas
públicas; elevar a taxa de alfabetização dos adultos; e triplicar matrículas na
educação profissional – é necessário aumentar o percentual investido pelo
Estado em educação até alcançar 10% do Produto Interno Bruto (PIB) no final da
vigência do documento.
“A PEC 241 impede a ampliação dos recursos
para educação”, diz a presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina
Vitral. “O principal risco da PEC 241 é o fim do Plano Nacional de Educação,
uma pauta que lutamos por dez anos para aprovar e que planeja a educação pelos
próximos dez. O plano previa que o governo fosse aumentando gradualmente o
investimento em educação e, sem esse recurso, as metas se inviabilizam.” O plano
foi aprovado em 2014.
Estudantes de diversos estados organizaram
hoje um dia nacional de luta contra a medida. Foram ocupados 73campi
universitários e realizadas aulas públicas e fechamento de rodovias federais.
Além disso, os estudantes convocaram atos em Brasília, Porto Alegre, Rio de
Janeiro e Belo Horizonte. Em São Paulo a mobilização está marcada para amanhã.
Os estudantes protestam também contra a Medida Provisória (MP) 746, que propõe
uma reforma no ensino médio, considerados ultrapassados por especialistas, e
contra o projeto Escola sem Partido.
“Hoje é um dia nacional de luta
do movimento educacional com ocupações e paralisações em diversas
universidades, junto com professores e técnicos administrativos”, diz Carina.
“É um aviso para que o governo não tente enfiar essa PEC goela a baixo da
educação.”
Além das universidades, são 995 escolas e
institutos federais e três núcleos de educação estão ocupados, além de outro
espaço não identificado pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas,
responsável pelo levantamento. O estado que concentra o maior número de
ocupações é o Paraná (847), seguido por Minas Gerais (48), Rio Grande do Sul
(13) e Goiás e Rio Grande do Norte (ambas com nove). “O movimento de ocupações
é legítimo e é uma pressão pela retirada da PEC 241 e da medida provisória do
ensino médio (746). É uma ação emergencial contra medidas que colocam em risco
a educação”, diz a presidenta da UNE.
Segundo professores da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), se a lei valesse desde 2005, os
recursos para a área em 2015 teriam caído de R$ 98 bilhões para apenas R$ 24
bilhões. O crescimento de 100% em vagas nas universidades federais desde 2003 e
de mais de 400% no número de mestres e doutores desde 1996 não teria ocorrido.
Já a reforma do ensino médio, que foi
anunciada pelo governo Temer em 22 de setembro, prevê a flexibilização do
currículo para que os alunos escolham entre as áreas de linguagens, matemática,
ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional.
Artes, Educação Física, Filosofia e Sociologia deixam de ser obrigatórias e os
professores não precisariam mais ter diploma de licenciatura. O modelo foi
duramente criticado por especialistas, que defendem que ele fragmenta a
formação.
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