Saúde pode perder até R$ 743 bilhões em 20 anos de PEC do Teto, diz Ipea
Um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea), órgão vinculado ao Ministério do Planejamento, mostra que o
Sistema Único de Saúde (SUS) perderá até R$ 743 bilhões caso a Proposta de
Emenda à Constituição (PEC) 241, aprovada nesta segunda-feira (11/10) em
primeiro turno na Câmara dos Deputados, passe a valer no país.
O texto-base da chamada PEC do Teto prevê que o crescimento
das despesas do governo estará limitado à inflação acumulada em 12 meses até
junho do ano anterior por um período de 20 anos."A PEC 241 impactará
negativamente o financiamento e a garantia do direito à saúde no Brasil",
afirma a nota técnica datada de setembro deste ano e assinada pelos
pesquisadores Fabiola Sulpino Vieira e Rodrigo Pucci de Sá e Benevides.
O estudo aponta que o gasto com saúde no Brasil é de 4 a 7
vezes menor do que o de países que têm sistema universal de saúde, como Reino
Unido e França, e inferior ao de países da América do Sul nos quais o direito à
saúde não é universal (Argentina e Chile). Enquanto no Brasil o gasto com saúde
em 2013 foi de US$ 591 per capita, no Reino Unido foi de US$ 2.766 e na França,
US$ 3.360. Na América do Sul, a Argentina gastou US$ 1.167 e o Chile, US$ 795.
Em uma forte crítica à PEC, os pesquisadores afirmam que
congelar o gasto em valores de 2016, por 20 anos, parte do pressuposto "equivocado"
de que os recursos públicos para a saúde já estão em níveis adequados para a
garantia do acesso aos bens e serviços de saúde, e que a melhoria dos serviços
se resolveria a partir de ganhos de eficiência na aplicação dos recursos
existentes. No entanto, a nota técnica afirma que o congelamento não garantirá
o mesmo grau de acesso e qualidade dos bens e serviços à população brasileira
ao longo desse período, uma vez que a população aumentará e envelhecerá de
forma acelerada.
Assim, o número de idosos terá dobrado em vinte anos, o que
ampliará a demanda e os custos do SUS. "Mesmo que se melhore a eficiência
do SUS, objetivo sempre desejável, existe, do ponto de vista assistencial,
déficit na oferta de serviços em diversas regiões do país", diz o estudo.Os
pesquisadores afirmam que o Brasil passa por um rápido processo de mudança na
estrutura demográfica. As projeções do IBGE para a estrutura etária indicam que
a população brasileira com 60 anos ou mais, que hoje representa cerca de 12,1%
do total, representará 21,5% em 2036.
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmou que sua área,
assim como a educação, não perderá investimentos com a PEC.O presidente Michel
Temer também afirmou que as áreas não perderão recursos. "O teto (dos
gastos) é de natureza global. O que será estabelecido é um teto geral. Não
significa que existe um teto para saúde, para educação, para cultura. Saúde e
educação continuarão sendo prestigiadas", falou.O ministro da Fazenda,
Henrique Meirelles, defendeu em pronunciamento à nação a necessidade de controlar
os gastos do governo para que o País possa retomar o crescimento econômico, e
prometeu não cortar gastos com saúde e educação.
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