PEC 241: Estado mínimo para os pobres e máximo para as elites financeiras
"O País atravessa a mais grave crise desde 1930",
"Dilma e o PT quebraram o Brasil", "Vivemos uma crise de
confiança causada pelo aumento da dívida pública". Essas são as afirmações
difundidas diuturnamente pelos meios de comunicação, pela equipe econômica do
governo ilegítimo de Michel Temer, pelos economistas e especialistas ligados ao
establishment.
Crise, crise, crise... o mesmo terrorismo econômico criado
pela antiga oposição de direita e sustentado pela mídia - que serviu de
combustível para o golpe parlamentar perpetrado contra a presidenta Dilma
Rousseff -, serve, agora, de pretexto para impor ao povo brasileiro um programa
ultraliberal conservador de desmonte do Estado e de retirada de direitos
sociais, trabalhistas e previdenciários.
O mantra de que estamos submersos na mais grave crise
econômica de nossa história não passa de uma estratégia rasteira de
manipulação. Fabricou-se a gravidade de um "problema" com vistas a se
oferecer uma "solução" em nome de um suposto "bem" maior.
O governo Temer - alçado ao poder pelas asas de um golpe
financiado pela FIESP e pelo mercado financeiro, sustentado pela mídia e
legitimado pelo corporativismo do judiciário - oferece como solução mágica para
todos os problemas econômicos e sociais do Brasil a velha política de
austeridade fiscal, tão difundida pelos governos neoliberais de FHC na década
de 90. Os efeitos produzidos por essa política no Brasil e no mundo são
fartamente conhecidos.
O ajuste fiscal é vendido em todos os grandes meios de
comunicação impresso, televisivo e eletrônico como verdade única e
inquestionável, como salvação da pátria, um "mal necessário", o
"remédio amargo" capaz de recolocar o País nos trilhos e recuperar a
confiança de investidores nacionais e internacionais. Em resumo, o ajuste
fiscal é visto como a única solução capaz de nos levar ao tão almejado
crescimento econômico.
Na perspectiva daqueles que usurparam o poder sem votos,
retomar o crescimento e recuperar a confiança do mercado passa necessariamente
por diminuir o tamanho do Estado brasileiro.
A síntese desse pensamento está materializada em uma das
principais medidas enviadas por Temer ao Congresso Nacional. A Proposta de
Emenda à Constituição (PEC 241/16), também chamada de PEC do Teto dos Gastos
Públicos, pretende congelar por 20 anos os gastos da União com políticas
públicas. Caso seja aprovada, a PEC limitará, a partir de 2017 - excetuadas as
áreas de saúde e educação - o crescimento de todas as despesas primárias do
Executivo, Legislativo e Judiciário ao montante aplicado em 2016 corrigida
apenas pela inflação. Saúde e educação passam a se submeter a mesma regra a partir
de 2018.
O governo ilegítimo além de atacar de forma vil a
democracia, de retirar da sociedade e do parlamento a prerrogativa de definir o
orçamento da União, tem a audácia de propor uma mudança no texto constitucional
com o objetivo de estabelecer uma regra de austeridade fiscal que valerá,
inclusive, para os próximos governos legitimamente eleitos.
Essa PEC representa um profundo retrocesso civilizatório,
uma vez que ela propõe uma ruptura radical com o contrato social celebrado pela
Constituição de 1988. Se aprovada, trará efeitos nefastos para o funcionamento
do Estado e das políticas públicas.
A face mais cruel dessa medida, sem dúvida alguma, reside no
fato de que ela centra-se fundamentalmente num modelo de ajuste fiscal voltado
para as despesas primárias, para os gastos com saúde, educação, previdência,
assistência social, segurança pública, saneamento, etc, mas excetua do ajuste
as despesas com o pagamento de juros e amortizações da dívida pública.
Atualmente a maior despesa do orçamento da União é
justamente com os serviços da dívida. De acordo com a Proposta de Lei
Orçamentária de 2017 (PLOA) - já elaborada seguindo os princípios e diretrizes
estabelecidos pela 241, apesar da medida ainda não ter sido aprovada pelo
Congresso - mais de 50% do orçamento será destinado ao pagamento de juros e
amortizações.
Portanto, ao mesmo tempo em que a PEC corta na carne do povo
brasileiro, retirando recursos de direitos constitucionais básicos, a proposta
mantém inalterado o bilionário e inescrupuloso lucro de banqueiros e rentistas.
Desse modo, a medida constitucionaliza uma política cruel de Estado mínimo para
os mais pobres e máximo para as elites financeiras.
Só para se ter uma ideia do impacto dessa proposta, um
estudo realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (DIEESE) demonstra que caso a medida já estivesse em vigor
desde o ano de 2002, o governo federal teria investido 47% menos em educação do
que o que se investe hoje e 26% menos em saúde. Em números, A PEC representaria
R$ 377 bilhões a menos para educação e cerca de R$ 300 bilhões para a saúde.
Dado os profundos cortes que estão sendo propostos, essa
medida deveria se chamar PEC Exterminadora do Futuro. Só para seguir com o
exemplo das áreas de saúde e educação, ao propor diminuição tão acentuada do
orçamento, o governo ilegítimo assume que não tem compromisso algum com as
metas estabelecidas pelo PNE, tampouco com a superação do subfinancimento
histórico da saúde, particularmente agravado pelo acelerado processo de mudança
nos perfis demográfico e epidemiológico da população brasileira, diante do
crescimento acentuado da população idosa.
Ao contrário dos aumentos ascendentes com as políticas
sociais nos governos de Lula e Dilma, o atual ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles, tem defendido abertamente que os direitos sociais garantidos pela
Constituição de 88 não cabem no orçamento da União. Ao justificar a necessidade
de aprovação urgente dessa medida, Meirelles atribui que a raiz do problema
fiscal brasileiro estaria no crescimento elevado do gasto público verificado
durante os governos petistas de Lula e Dilma, gastos que teriam sido realizados
em descompasso com o crescimento da Receita.
No entanto, a tese defendida por Meirelles não se sustenta.
Nota técnica divulgada pelo DIEESE aponta que as despesas primárias tiveram em
consonância com o aumento da receita até o ano de 2012. Segundo o Departamento,
o descolamento das despesas se aprofundou com o drástico ajuste fiscal proposto
pelo então ministro da Fazenda do governo Dilma, Joaquim Levy, no ano de 2015,
período em que os investimentos estatais diminuíram e, consequente, a
participação do Estado na economia. Com isso, a receita despencou ao passo que
as despesas seguiram no mesmo patamar.
Quando olhamos em uma perspectiva histórica, os períodos de
maior crescimento econômico brasileiro se deram exatamente quando os
governantes reconheceram a capacidade do Estado como dinamizador da economia.
Foi assim nos governos de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart,
Lula e Dilma.
Os governos de Lula e Dilma demonstraram que a população
mais pobre não era o problema desse País. Ao contrário, era a solução. Ao
propor políticas sociais e redistributivas nossos governos conseguiram a
incrível façanha de acabar com a fome, reduzir drasticamente a pobreza e a
extrema pobreza, melhorar a qualidade de vida de brasileiros e brasileiras,
enfim, reduzir como nunca as gritantes desigualdades sociais brasileiras, ao
mesmo tempo em que se dinamizou a economia e fortaleceu o mercado interno de
massas.
Gasto social é investimento e não despesa como quer fazer
crer o projeto neoliberal dos golpistas. Estudos comprovam que a cada R$ 1 real
investido em educação, tem-se um retorno de R$ 1,85 no PIB e cada R$ 1 real
investido em saúde, tem-se um retorno de R$ 1,70 no PIB.
Nesse sentido, o governo ilegítimo sabe que o remédio amargo
do ajuste fiscal não nos conduzirá à retomada do crescimento. Quando o governo
limita o aumento dos gastos à inflação do ano anterior e os desvincula de um
eventual crescimento da Receita ou mesmo do Produto Interno Bruto (PIB), ele
assume que ajustes fiscais drásticos são sinônimos de recessão e paralisia
econômica. Na verdade, a PEC terá o efeito oposto àquele que vem sendo propagandeado
pelo governo e pelos meios de comunicação. Ela é uma das estratégias utilizadas
para precarizar todos os serviços públicos e legitimar a sua privatização.
A PEC 241 serve única e exclusivamente para sinalizar ao
mercado financeiro que o governo cortará gastos essenciais para o povo
brasileiro e preservará os exorbitantes lucros de banqueiros e rentistas. Não
se trata em hipótese alguma de uma política fiscal que visa a retomada do
crescimento econômico, ao contrário, é aposta na recessão para fazer poupança
para o pagamento das contas àqueles que apoiaram a quebra da normalidade
democrática, que não aceitaram a derrota do programa neoliberal por quatro
vezes consecutivas nas últimas eleições e apostaram num golpe parlamentar para
implementar a qualquer custo o tal programa "ponte para o abismo".
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