Governo cria regras para que saúde privada reduza cesarianas
O Ministério
da Saúde e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) anunciaram nesta
terça-feira (6), em Brasília, uma nova resolução que irá pressionar as
operadoras a fiscalizarem mais hospitais e médicos para diminuir a quantidade
de partos cesáreos feitos por planos de saúde no Brasil.
O governo
busca estimular o parto normal e reduzir as cesarianas, quando possível, pois o
índice de nascimentos por meio cirúrgico chega a 84,6% do total realizado via
planos de saúde. O índice é extremamente alto se comparado ao recomendado pela
Organização Mundial da Saúde (OMS): 15%.
A medida será
publicada nesta quarta-feira (7) no Diário Oficial e o prazo para as operadoras
se adaptarem à resolução é de 180 dias.
Entre as novas
regras, fica estabelecido que os planos de saúde devem informar às pacientes,
em até 15 dias, a quantidade de cesarianas realizadas por médico, operadora e
hospital, quando solicitados.
Segundo o
governo, com essas informações em mãos, a mulher terá a oportunidade de
analisar melhor e com calma o histórico do médico e do local em que o parto
será realizado e pode ajudá-la a optar, inicialmente, pelo método normal. A
multa para as operadoras que não prestarem as informações quando solicitadas
pela gestante será de R$ 25 mil.
Partogramas
Outra medida é
que as operadoras orientem os médicos a utilizarem partogramas, espécie de
documento com registros do trabalho de parto, com dados estabelecidos pela OMS.
Segundo o
ministro da Saúde, Arthur Chioro, procedimentos médicos desnecessários que
venham a ser detectados em auditorias feitas pelas operadoras, como os próprios
partos cesáreos, correm o risco de não precisarem ter o pagamento coberto. No
caso, o médico e a equipe ficariam sem receber da operadora pelo procedimento
realizado.
Com a
iniciativa, o governo espera que os planos de saúde estimulem os médicos a usarem
o partograma para reforçar a segurança da gestante e do profissional de saúde
envolvido e, com isso, diminuir a quantidade de cesarianas no país.
"O bom
obstetra usa esse documento como instrumento de segurança para mostrar o que
foi realizado em caso de óbito infantil. Ele é decisivo se houver complicações
também. Temos de induzir uma prática mais qualificada, com menos procedimentos
desnecessários. Ele já é muito utilizado em hospitais públicos e privados.
Agora vai se generalizar", afirmou Chioro.
A resolução
determina também a inclusão de contatos da ANS no Cartão da Gestante e a
orientação para que médicos utilizem partogramas com dados estabelecidos pela
OMS.
Epidemia de
cesarianas
Para o
ministro, as inciativas devem ajudar o Brasil a se adequar aos índices
estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS). "Não dá para a
gente continuar considerando como normal o que não é normal, que é o parto
cesáreo. O Brasil tem muito mais cesarianas do que o recomendado pela OMS,
temos que reduzir isso."
Não dá para a
gente continuar considerando como normal o que não é normal, que é o parto
cesáreo. O Brasil tem muito mais cesarianas do que o recomendado pela OMS,
temos que reduzir isso"
Ele considerou
ainda como "ilegal" a cobrança feita por médicos de uma "taxa de
disponibilidade" - não coberta pelo plano de saúde - para acompanhá-la no
parto normal, quando esta opta pelo procedimento. Isso porque esse
procedimento, em geral, é mais demorado que a cesariana, ocupando mais o tempo
do médico.
Para o
diretor-presidente André Longo, o "ideal é que a mulher entre em trabalho
de parto e depois decida qual será o modo [de parto]" e quais as medidas
para ajudá-la nesta decisão.
As iniciativas
foram formuladas com base em duas consultas públicas realizadas na internet
entre outubro e novembro do ano passado. Elas contaram com a participação de
operadoras, consumidores, gestores, entre outros.
Partos
O parto
cesáreo é um procedimento cirúrgico para a retirada do bebê por meio de uma
incisão abdominal. Ao todo, 84,6% dos partos realizados no Brasil com planos de
saúde são cesáreos. A porcentagem deste tipo de parto no Sistema Único de Saúde
(SUS) é menor: 40%. No país, levando-se em conta tanto a rede pública quanto a
privada, a cesariana representa 55,6% do total dos nascimentos.
A recomendação
da OMS é que somente 15% dos partos sejam realizados por cesariana, pois essa
seria a porcentagem de situações reais de risco à mãe ou ao bebê se o parto for
feito por via natural. A cesariana ainda triplica o risco de morte materna por
causa de possíveis infecções e acidentes anestésicos, por exemplo.
Comentários
Postar um comentário