Vladimir Safatle: Aécio e a falência da educação no Tucanistão
por Vladimir Safatle, na Folha
Quem realmente se importa com a
educação nacional não pode decidir seu voto sem antes refletir sobre alguns
dados a respeito de nossas universidades. Queiram seus protagonistas ou não,
esta é uma eleição de retrovisor. Não só o governo apoia-se principalmente
naquilo que já fez, usando o discurso da perda possível do que foi conquistado
como motor de mobilização. A oposição também se apresenta com basicamente os
mesmos personagens vindos do finado governo FHC.
Desde o responsável pelo programa
econômico até a responsável pelo programa de educação, todos, a começar pelo
próprio Aécio Neves, estiveram organicamente ligados aos oito anos de governo
FHC. Não houve autocrítica alguma nem renovação ou reposicionamento a partir
dos fracassos passados. Por isso, impossível não esperar a reedição do que o
país já viu nos anos 90.
Vale a pena insistir neste ponto porque
o legado educacional desses anos foi lamentável. Durante oito anos, o país não
inaugurou nenhuma (há de se sublinhar, nenhuma) nova universidade federal. Ao
contrário, quando o sr. Paulo Renato entregou seu cargo de Ministro da
Educação, o país conhecera oito anos sem concursos públicos para professores
universitários, deixando um déficit de 7.000 professores no sistema nacional.
Apenas a título de exemplo, a UFRJ, uma
das mais importantes universidades do país, diminuiu (sim, diminuiu) em 10%,
sendo obrigada, entre outras coisas, a fechar cursos noturnos por não ter
dinheiro para pagar a conta de luz (não, isso não é uma metáfora). Bem, depois
de 2002, 18 novas universidades federais foram inauguradas.
Como se não bastasse esse legado, seu
partido, no governo do Estado de São Paulo há mais de duas décadas, é
atualmente responsável direto pela situação falimentar das universidades
paulistas. Afinal, é o governador do Estado que indica os reitores, muitas
vezes contra as escolhas da maioria da comunidade acadêmica, como foi com o
polêmico senhor João Grandino Rodas.
Nestes anos de Tucanistão, o Estado
paulista impôs um ritmo de crescimento às universidades desprovido de dotação
orçamentária para tanto. O resultado é a crise que aí está.
Agora, se isso não basta, façam uma
pesquisa e perguntem qual é a situação da Universidade Estadual de Minas
Gerais, esta sim sob a responsabilidade direta do senhor Aécio e seu grupo.
Suas condições deterioradas de trabalho, com seus professores “designados” e
sua infraestrutura precária, são conhecidas no meio acadêmico e motivos de
greves periódicas.
Com toda esta história
e este presente, há de se perguntar: é essa “renovação” que o país precisa?
Comentários
Postar um comentário