BOMBA: Moradores de Itu voltam à Câmara para pedir socorro
Cerca de 50 pessoas acompanharam e protestaram por causa da falta
d'água em Itu (SP) durante a sessão da Câmara dos Vereadores realizada
nesta segunda-feira (20). Com cartazes e narizes de palhaço, os
moradores cobraram por soluções. Por diversas vezes, a sessão da Câmara
precisou ser interrompida. Uma manifestante mais exaltada foi retirada
pelo policiamento do prédio, que estava reforçado.
socorro à cidade (Foto: Ana Carolina Levorato/G1)
Entre gritos dos manifestantes e paralisações da sessão, os vereadores
aproveitaram a reunião para votar um requerimento solicitando a presença
do prefeito Antônio Tuíze. O documento, que teve dez votos favoráveis e
dois contra, convida Tuíze para que dê esclarecimentos sobre a atual
crise no abastecimento de água da cidade.
Segundo os vereadores, o requerimento é um convite e não tem
obrigatoriedade, nem prazo para que seja realizada a sessão com a
participação dele. "É um convite, mas deveria ser uma convocação. Se
todos [os vereadores] aprovassem, seria visto dessa forma. Achamos que
ele tem que sair do gabinete para explicar à população o que está
acontecendo", diz a vereadora Balbina de Oliveira de Paula Santos, que
apresentou o requerimento na Câmara.
bica (Foto: Gilberto Moreira/TEM Você)
A Justiça passou de R$ 200 para R$ 500 a multa por imóveis que ficarem
mais de 48 horas sem água. A cobrança começa assim que i inquérito for
concluído pelo Ministério Público. Os promotores também elaboraram um
pedido de intervenção do estado.
Os moradores estão aproveitando os pontos de água, como fontes e bicas, para abastecer suas residências. No bairro Santa Terezinha, a população está enfrentando filas e passando horas para conseguir alguns litros de água em uma bica.
Tem gente que está indo de madrugada buscar água na bica. No mesmo
bairro, a torneira de uma fonte de uma loja de colchões virou ponto de
abastecimento.
(Foto: Ana Carolina Levorato/G1)
Protesto na bica
Um grupo de moradores realizou um protesto ao lado da bica do bairro Santa Terezinha, nesta segunda-feira. Cerca de 250 pessoas, segundo a Polícia Militar, atearam fogo em pneus, madeira e móveis velhos, interditando o trânsito de veículo.
Um grupo de moradores realizou um protesto ao lado da bica do bairro Santa Terezinha, nesta segunda-feira. Cerca de 250 pessoas, segundo a Polícia Militar, atearam fogo em pneus, madeira e móveis velhos, interditando o trânsito de veículo.
O protesto foi no cruzamento das ruas Nadalin Stivanelli e Pedro
Álvares Cabral. Com a queima do material, a fumaça preta e densa se
espalhou pela rua. Policiais militares acompanharam o protesto, que foi
pacífico, apesar do incêndio.
(Foto: Paulo Roberto de Souza/TEM Você)
Desespero
O racionamento de água em Itu já dura nove meses e alguns moradores dizem que ficam até um mês sem receber uma gota nas torneiras. O pouco que chega nas casas é com o caminhão-pipa. No desespero de encontrar água, os moradores estão apelando até para a zona rural.
O racionamento de água em Itu já dura nove meses e alguns moradores dizem que ficam até um mês sem receber uma gota nas torneiras. O pouco que chega nas casas é com o caminhão-pipa. No desespero de encontrar água, os moradores estão apelando até para a zona rural.
Os moradores do Jardim União encontraram um pouco de água em poço no meio do pasto. Eles usaram mangueiras para puxar a água do local onde tem uma olaria desativada.
que foi atacado durate protesto (Foto: TEM Você)
Durante uma manifestação feita no Jardim São Judas, na quinta-feira
(16), um morador aproveitou para protestar de uma forma inusitada. Ele aproveitou a água que jorrava de um caminhão-pipa para tomar banho. O local ficou sem fornecimento de água há mais de uma semana, de acordo com os manifestantes.
Ainda durante o protesto, um grupo de pessoas colocou fogo em pneus e em contêineres em volta de um caminhão-pipa.
Imagens publicadas na internet mostram o momento da tentativa de ataque
e depredação ao veículo. O caminhão-pipa estava parado e ia começar a
abastecer as casas quando foi atingido por pedras e rojões.
colocam fogo em volta (Foto: Reprodução/Internet)
De acordo com a Polícia Militar, alguns manifestantes tentaram colocar
fogo no caminhão-pipa, mas foram impedidos pelos próprios moradores.
Ninguém foi preso.
Por causa de ataques a caminhões-pipa, a Guarda Civil Municipal começou a escoltar os veículos
há cerca de duas semanas. A GCM é avisada pela manhã quais os bairros
que serão percorridos e acompanham o comboio. Três a quatro viaturas
ficam à disposição para escoltar os caminhões em alguns bairros.
Estiagem
A estiagem em Itu tem feito os moradores enfrentarem um verdadeiro martírio em busca de água. Como o cronograma de racionamento não é cumprido e as solicitações de caminhão-pipa nem sempre são atendidas, segundo os moradores, poços, bicas, fontes e lagoas se tornaram pontos de peregrinação na cidade.
A estiagem em Itu tem feito os moradores enfrentarem um verdadeiro martírio em busca de água. Como o cronograma de racionamento não é cumprido e as solicitações de caminhão-pipa nem sempre são atendidas, segundo os moradores, poços, bicas, fontes e lagoas se tornaram pontos de peregrinação na cidade.
garantia de qualidade (Foto: Reprodução/TV TEM)
Com um sol forte e uma temperatura acima dos 34ºC, o clima em Itu é bem
parecido com lugares onde a escassez de água é mais frequente. Buscar
água em bicas e córregos se tornou comum para moradores de vários pontos
da cidade. No bairro Cidade Nova, uma das regiões mais castigadas
com o racionamento, são três bicas. Canos onde moradores colocam
garrafas e baldes para pegar água. Durante todo o dia, a cena se repete e
há filas.
O problema é que ninguém sabe a qualidade da água. O porteiro Jorge da
Silva está há quase duas semanas sem uma gota de água em casa. Todo dia,
ele segue a mesma rotina, cedo e a tarde, vai até um lago que recebe
água que vem de uma represa. Com a água que sai da tubulação, Jorge não
sabe se é de boa procedência. "O que a gente sabe é que a água vem de
uma lagoa, mas não sabemos se é boa. Se quiser tomar banho tem que fazer
esse sacrifício. Senão, a gente fica sem tomar banho", diz.
(Foto: Reprodução/TV TEM)
Banho e transporte com mala
A água que escorre dia e noite também, usada por tantos moradores, também abastece a família do ajudante de caminhão Jorge Henrique da Silva, que está há quase 20 dias sem água. A situação é tão crítica que o banho do filho Caio, de 3 anos, tem sido na bica com frequência. "Tem que pegar água para lavar louça, lavar roupa. Inclusive tomar banho aqui."
A água que escorre dia e noite também, usada por tantos moradores, também abastece a família do ajudante de caminhão Jorge Henrique da Silva, que está há quase 20 dias sem água. A situação é tão crítica que o banho do filho Caio, de 3 anos, tem sido na bica com frequência. "Tem que pegar água para lavar louça, lavar roupa. Inclusive tomar banho aqui."
A bica do meio do barranco até alguns meses atrás vivia esquecida, mas
quando as torneiras começaram a ficar secas por muito tempo, o local
virou o principal ponto do bairro. Os moradores improvisam com carrinhos de feira e sacolas.
transportar a água (Foto: Reprodução/TV TEM)
Para conseguir levar toda a água que precisa, um eletricista levou uma
mala. "A mala é a única coisa que eu tenho para transportar a quantidade
de água que eu preciso. Eu faço de 10 a 12 viagens para as crianças
tomarem banho, a mulher lavar a roupa porque faz dias que não cai uma
gota d'água na torneira", afirma Severino Dias da Silva.
Já a moradora Maria Eunice da Silva do Nascimento pretende tomar uma
atitude extrema. Sem saber o que fazer, já que a situação chegou ao
limite, ela pretende se mudar de Itu. "Estou triste porque gosto de Itu,
mas na situação que estamos, já coloquei a casa à venda. A água é
sagrada, e como fazemos para sobreviver em um lugar sem água?",
questiona a doceira.
'Pontos críticos'
Depois de nove meses de racionamento em Itu, o Comitê de Gestão da Água, órgão recentemente criado na cidade, ligado à prefeitura, mapeou 17 pontos críticos onde a pressurização da rede de abastecimento de água não é suficiente para manter o rodízio. Na quinta-feira (9), caminhões-pipa foram encaminhados para bairros como, Parque Industrial, Jardim Rancho Grande, Jardim São Judas, Alto das Palmeiras e Bairro Brasil, parte mais alta da cidade.
Depois de nove meses de racionamento em Itu, o Comitê de Gestão da Água, órgão recentemente criado na cidade, ligado à prefeitura, mapeou 17 pontos críticos onde a pressurização da rede de abastecimento de água não é suficiente para manter o rodízio. Na quinta-feira (9), caminhões-pipa foram encaminhados para bairros como, Parque Industrial, Jardim Rancho Grande, Jardim São Judas, Alto das Palmeiras e Bairro Brasil, parte mais alta da cidade.
em Itu (Foto: Reprodução/TV TEM)
A situação em Itu é resultado da falta d'água que assola a cidade desde 5 de fevereiro deste ano,
quando a concessionária Águas de Itu implantou o racionamento na
cidade. No início, o rodízio era feito apenas nos bairros mais altos,
onde a distribuição de água é mais difícil. Nos meses seguintes, o
racionamento foi ampliado pelo menos mais três vezes e atualmente está
em vigor na cidade toda.
O problema é que os moradores reclamam que o rodízio de água não é cumprido
como anunciado pela empresa e muitos bairros estão sem água há dias. Há
moradores que relatam que chegam a ficar 15 dias sem água. O
abastecimento com caminhões-pipa também é alvo de reclamações. Até o atendimento ao consumidor gera queixas, já que muitas vezes o morador fica vários minutos no telefone e não consegue ser atendido.
De acordo com a prefeitura, cerca de 300 idosos e pessoas acamadas
foram cadastradas como moradores com prioridade de abastecimento. O
Comitê informa ainda que escolas, creches, unidades de saúde e outros
prédios públicos são atendidos com caminhões-pipa no período noturno.
Entenda a crise
Apesar do Ministério Público já ter recomendado à prefeitura que reconheça o estado de emergência e calamidade pública, a prefeitura decidiu não acatar a medida. Em entrevista, o prefeito afirmou que o decreto não seria pedido já que não está faltando água para manter os serviços essenciais, como hospitais e escolas. O chefe do executivo afirmou também que foi protocolado um decreto para captação em 24 poços e reservatórios de uma indústria de bebidas do município.
Apesar do Ministério Público já ter recomendado à prefeitura que reconheça o estado de emergência e calamidade pública, a prefeitura decidiu não acatar a medida. Em entrevista, o prefeito afirmou que o decreto não seria pedido já que não está faltando água para manter os serviços essenciais, como hospitais e escolas. O chefe do executivo afirmou também que foi protocolado um decreto para captação em 24 poços e reservatórios de uma indústria de bebidas do município.
No entanto, conforme o documento enviado em julho, o Ministério Público
aponta que a precariedade no abastecimento de água para a população não
decorre exclusivamente do período de estiagem, mas sim de anos de má
gestão e falta de investimentos no aumento da armazenagem de recursos
hídricos, além da construção de novas barragens, desassoreamento das já
existentes e modernização dos sistemas de tratamento e distribuição.
Após o Ministério Público reforçar a importância de que as reclamações sobre a falta d'água na cidade sejam registradas,
o órgão já registrou mais de 1 mil ocorrências em menos de uma semana.
Em um dia, 400 reclamações de moradores foram protocoladas e anexadas ao
inquérito encaminhado ao Poder Judiciário. Na ação, o MP apresentou uma
carta de recomendação ao prefeito para que tome previdências no sentido
de tentar amenizar a situação dos reservatórios.
De acordo com a liminar, caso a água não chegue até o imóvel, a
população deve reclamar na concessionária que terá que resolver o
problema em 48 horas e a prefeitura será multada. Para o promotor, a
intenção do órgão é esclarecer à população sobre os seus diretos. “Nós
intensificamos a importância dos registros já que as pessoas não sabiam o
que fazer e quem procurar. Temos outros pontos de atendimento, mas
vários moradores chegam aqui e dizem que estão sem água a muito mais
dias do que o tempo aceito pelo MP”, diz. O morador também deve fazer a
denúncia no Ministério Público, localizado na Avenida Goiás, 194, no
bairro Brasil.
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