Por que é que, na Índia, o tabu sobre a menstruação das mulheres ainda persiste?
"Eu não posso ir à
cozinha, não posso entrar no templo, não posso sentar com os outros",
afirma a mãe de uma menina de 9 anos, moradora de um vilarejo distante em
Uttarakhand, um estado montanhoso no norte da Índia.
No país, há geralmente um
silêncio em torno da questão da saúde das mulheres - especialmente em torno da
menstruação. Um tabu arraigado alimenta a criação de um mito risível em torno
da menstruação: mulheres ficam impuras, imundas, doentes e até mesmo
amaldiçoadas durante este período.
As pessoas acreditam que as
mulheres menstruadas não devem tomar banho e que ficam anêmicas.
Um estudo recente realizado
por um fabricante de absorventes descobriu que 75% das mulheres que vivem em
cidades ainda compram os produtos envoltos em embalagens marrons ou jornais por
causa da vergonha associada à menstruação.
Elas também quase nunca pedem
a um homem para comprar absorventes.
"Cresci em uma casa cheia de
mulheres, mas a gente nunca discutia abertamente um dos ritos de passagem mais
naturais do mundo".
"Minha mãe costumava cortar
lençóis velhos e esconder os pedaços em uma caixa, pronta para ser usada por
suas quatro filhas".
Mãe de uma
menina de 9 anos, Manju diz que não deixará a menina sofrer por preconceito
O maior desafio era secar
esses pedaços de pano. Tenho lembranças claras de me sentir tensa e preocupada
com o processo.
Minhas irmãs me ensinaram o
truque para manter aquelas tolhas manchadas sob outras roupas para que nenhum
homem percebesse. Não podíamos arriscar colocá-las sob o sol para secar
completamente.
O resultado era que elas nunca
secavam completamente, deixando um fedor horrível. Essa toalha pouco higiênica
era usada várias vezes.
A falta de água tornava o
processo ainda mais difícil e pouco higiênico. E isso não mudou muito para a
maioria das mulheres indianas.
Estudos recentes mostram que
essa práticas constituem um perigoso risco para a saúde das mulheres.
Dados também mostram que uma
em cada cinco garotas deixa a escola por causa da menstruação - são mais de 3
milhões de mulheres na Índia que deixaram as salas de aula.
Margdarshi, de 15 anos, ama
ir à escola e nunca perde aulas - exceto no ano passado, quando ela quase
desistiu de estudar após ficar menstruada pela primeira vez.
Indianas aprendem a esconder toalhas
suja de menstruação de homens, conta Rupa Jha
"Me sinto
envergonhada, brava e muito suja. Eu parei de ir à escola no início",
conta. "Estou sendo com medo de que alguém perceba, que vaze", diz.
Ela quer ser médica e
questiona por que os garotos da sua turma riem tanto na aula de biologia quando
o professor explica a menstruação.
"Eu odeio isso. Queria
que pudéssemos ser mais tranquilos e ficássemos confortáveis falando sobre
isso. Todas as mulheres passam por isso, o que há de engraçado?"
Anshu Gupta, fundador da
organização não governamental Goonj, acha que o problema é a questão ser
tratada como um "assunto de mulher".
"Não é um problema de
mulheres. É uma questão humana, mas acabamos isolando isso. Precisamos sair
dessa cultura de vergonha e silêncio. Precisamos quebrar isso."
Tentando acabar com o
silêncio em torno da questão, Goonj é um dos vários grupos que estão executando
campanhas para educar as pessoas sobre a menstruação e os mitos em torno dela.
Ele funciona em 21 dos 30
Estados da Índia.
A organização também faz
absorventes baratos a partir de panos reciclados para ajudar as 70% de mulheres
indianas que não têm acesso a absorventes seguros e higiênicos.
Outras iniciativas também
estão tentando quebrar os tabus em torno da menstruação.
Diversos
projetos usam panos reciclados para fazer absorventes
A Menstrupedia,
um site dirigido por quatro indianos, visa "estremecer os mitos e
entendimentos que cercam a menstruação" e apresenta histórias em
quadrinhos e guias simples sobre puberdade, menstruação e higiene. Ele recebe
mais de 100 mil visitantes por mês.
Uma mulher que abandonou a
escola no Estado indiano de Tamil Nadu foi uma dos primeiras a começar a fazer
absorventes baratos usando máquinas simples.
Arunachalam Muruganatham diz
que o absorvente tinha que "sair do armário".
É difícil ser uma mulher
pobre na Índia, e isso não vai mudar tão cedo.
Mas, gradualmente, as
mulheres começaram a assumir o controle de suas vidas. Muitas delas não ficam
mais presas em casa durante a menstruação - eles podem optar por sair,
trabalhar, ou continuar com seus estudos.
Mais importante, eles estão
começando a falar sobre isso. Sem vergonha.
fonte: BBC
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