Lisandra Pioner: a educação terceirizada
Estava
vendo uma reportagem essa semana sobre a chacina ocorrida no litoral gaúcho. Às
tristes imagens de mães sofrendo pela desordem natural das coisas somaram-se
inúmeras outras cenas em minha cabeça. Cenas de famílias preocupadas com o
desaparecimento dos filhos, pais levando suas não mais crianças a clínicas de
reabilitação, mães desesperadas fazendo reconhecimento de corpos por causa de
trágicos acidentes após fenomenais bebedeiras... Nem há necessidade de citar
catástrofes. Posso lembrar, também, de mães que se mostram perdidas em reuniões
de escola, verbalizando o pavor de não terem controle sobre crianças de não
mais do que 13 anos, ou pais preocupados com o rumo que a educação (ou a falta
dela) está acarretando na postura dos filhos. São crianças imediatistas,
egocêntricas, ansiosas, desatentas, imaturas (ou excessivamente “maduras”,
parecendo mais com adolescentes), que não sabem se colocar no lugar do outro,
que enfrentam, que não respeitam, que não aceitam limites.
A
estrutura da família pós-moderna mudou, e não é de hoje que os pais estão mais
ausentes da vida de suas crianças. Mas, especialmente hoje em dia, mais do que
nunca, a educação encontra-se terceirizada. Os pais, em muitos casos,
participam como meros coadjuvantes do que é mais essencial para o futuro de
seus filhos, que é o aperfeiçoamento da índole. Isso quando não são apenas
espectadores!
Nós,
adultos, pouco tempo temos para dar conta de tudo aquilo de que somos
incumbidos. A sociedade nos exige muito e, como marionetes, vamos fazendo tudo
aquilo que alguém, em algum momento, resolveu decidir que nos competia.
Exatamente assim, sem questionar, no piloto automático, fazemos o que dizem que
devemos fazer. E, somado a isso, vamos criando necessidades que não tínhamos,
originando situações que temos visto por todos os lugares, seja nos grandes
centros ou nas mais precárias periferias.
Nos
deparamos o tempo todo com famílias cuja situação financeira é ótima, mas estão
dilaceradas emocionalmente. Ou famílias em situação econômica crítica, que
tantas vezes (talvez exatamente por isso) também encontram-se despedaçadas.
De
uma coisa eu tenho certeza: se não cuidarmos dos nossos filhos, alguém dará um
jeito de fazer isso por nós. Às vezes é a escola, em outras são os avós,
algumas o vizinho prestativo... Mas não podemos esquecer de que, em grande
parte das vezes, será o traficante, o alcoolista que “mora” no bar do bairro, o
grupo de amigos que vira as noites em festas, a família com valores
completamente arbitrários.
A
vida é exatamente isso: um eterno refletir, questionar-se e adaptar-se. Você
tem filho? Então, cuide dele. Não delegue essa tarefa a outra pessoa, muito
menos a quem não confia.
A
criação de uma criança exige tempo, abdicação, resignação, muitas vezes exige
até sacrifícios. Mas poder estar perto, vivenciando cada novidade,
compartilhando novas descobertas e um dia ter a oportunidade de se deslumbrar
com uma resposta admiravelmente bem colocada daquele pequeno ser é um prazer
inenarrável, que não há satisfação que supere. Acredite!
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