Governo quer criar carreira de docente federal
O plano do
governo federal para tornar o slogan "Pátria Educadora" realidade
passa por intensificar a colaboração entre Estados, municípios e União,
aumentando a participação federal nos gastos com educação. Entre as iniciativas
propostas para qualificar a educação básica, estão previstos a criação de uma
carreira federal docente, uma vertente de bolsas do ProUni (Programa
Universidade Para Todos) só para formação de professores e a consolidação da
currículo nacional. O apoio a escolas e redes com problemas também está
previsto.
As ações estão
listadas no documento "Pátria educadora: a qualificação do ensino básico
como obra de construção nacional", construído pela SAE (Secretaria de
Assuntos Estratégicos da Presidência), comandada pela ministro Roberto
Mangabeira Unger. Uma versão preliminar, obtida pela reportagem, tem circulado
entre pesquisadores e será debatida tanto dentro do governo quanto com atores
da sociedade. Em carta encaminhada junto com o documento, Mangabeira Unger pede
que comentários e críticas sejam encaminhadas ao seu e-mail pessoal.
As propostas
estão vinculadas a quatro campos: a organização da cooperação federativa na
educação; a reorientação do currículo e da maneira de ensinar e de aprender; a
qualificação de diretores e de professores e o aproveitamento de novas
tecnologias. O documento é dividido em duas partes: apresenta "A
tarefa", que é o esboço do "ideário do "projeto", e
"As iniciativas". As propostas serão discutidas em cenário de ajuste
fiscal, em que o governo tem cortado gastos em todas as áreas.
Carreira
docente
A SAE propõe
criar uma carreira nacional docente, com regras sobre os planos de carreira,
vinculadas ao piso nacional, hoje em R$ 1917,78. Os Estados que aderirem a esse
modelo, segundo o documento, receberão mais recursos do MEC - por meio do FNDE
(Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).
Para entrar
nesse programa de carreira, o professor deverá fazer uma prova de certificação.
O trabalho dos docentes passará por uma avaliação independente e, em casos de
bom desempenho, haverá bonificação. Esse sistema de acréscimo de salários de
acordo com o resultados dos alunos já é aplicado na rede estadual paulista, mas
criticado por especialistas por não haver indícios sobre a relação ente o bônus
e a melhoria de aprendizado.
O documento
também retoma a ideia do Prova Nacional Docente, com questões práticas e
teóricas, para certificar professores depois da licenciatura. A ideia, aponta a
SAE, é influenciar nos cursos superiores, para que atendam melhor às
necessidades de sala de aula, e facilitar o intercâmbio de professores entre os
Estados.
A proposta de
criar um braço do ProUni exclusivo para cursos de licenciatura e Pedagogia é
mais uma aposta do governo na questão docente. "O desenho do programa [que
receberia o nome de ProFaped] terá em vista que a grande maioria dos
professores continua a ser formada em tais instituições". Ainda são
previstos nessa área a ampliação do Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação à Docência, além da criação de centro de formação de diretores.
O FNDE teria
papel central na reorganização federativa A SAE entende que a atuação do órgão
é o melhor caminho para financiar a maior parte dos programas propostos.
Currículo.
Outro foco do documento é a construção do currículo único (Base Nacional
Comum), com conclusão prevista para 2016. Segundo o texto, a proposta é
abandonar o "enciclopedismo raso" e dar ênfase maior "em análise
verbal (interpretação e composição de texto) e raciocínio lógico e matemático".
Além de uma
sequência padrão de capacitações, prevê a SAE, haverá sequências especiais de
habilidades, direcionadas a alunos com maior dificuldade ou potencial. O
documento afirma que não seriam versões mais rápidas ou lentas do currículo
padrão, mas "espaços para experimentos e individualização do ensino".
O pacote de
ações também prevê o Enem digital, uma ideia antiga dentro do Ministério da
Educação e que chegou a ser anunciada pelo ex-ministro Cid Gomes em fevereiro.
Além da conveniência dos alunos, a ideia é que o exame online ajude a influir
no currículo e na prática pedagógica. O formato deve ser testado, inicialmente,
com alunos não concluintes do ensino médio. O MEC já disse, porém, que a versão
digital do Enem não sai neste ano.
A SAE ainda
recomenda que a União crie uma rede federal de escoas médias de referência,
chamada Escolas Anisio Teixeira. Essa rede também seria utilizada para melhorar
a capacitação docente. A secretaria também propõe a criação de centros de
qualificação docentes e um Centro de Formação de Diretores.
No contexto
desenhado pela SAE, o esforço para qualificar o ensino público é colocado
dentro da "construção de nova estratégia de desenvolvimento
nacional". De acordo com o documento, "temos agora de fazer a
travessia para outra estratégia de desenvolvimento: produtivismo excludente,
pautado por democratização de oportunidades econômicas e educacionais."
Posicionamentos
Procurada, a
SAE afirmou que esse é um texto preliminar para discussão, resultado de
conversas com centenas de interlocutores de dentro e de fora do governo.
Segundo o órgão, o projeto tem sido feito desde 5 de fevereiro, em parceria com
o MEC, por orientação da presidente.
A secretaria
ainda afirmou que "a qualificação do ensino básico é obra de construção
nacional e projeto de Estado. Seu êxito depende da participação de todos os
brasileiros". Também procurado pela reportagem, o MEC ainda não se
posicionou.
O MEC
informou, em nota, que algumas reuniões foram realizadas nos primeiro trimestre
com o objetivo de discutir e propor ações dentro do escopo "Pátria
Educadora". "Vários dirigentes do MEC, inclusive o então Ministro Cid
Gomes, participaram das reuniões. O Ministro Renato Janine Ribeiro, que não
participou das reuniões anteriores, vai analisar com sua equipe o referido documento
preliminar, para então encaminhar as discussões sobre o mesmo, dentro do MEC,
bem como com outros ministérios e segmentos da sociedade", ressaltou a
nota.
Comentários
Postar um comentário