COMO OMAR MATEEN MESMO SENDO INVESTIGADO CONSEGUIU COMPRAR ARMAS EM ORLANDO?
Como Omar
Mateen, autor do massacre de Orlando, conseguiu autorizações legais para comprar
e portar armas mesmo tendo sido investigado duas vezes pelo FBI (polícia
federal americana) e respondido a processo por violência doméstica?
Essa pergunta tem permeado os debates em torno
do maior massacre a tiros da história recente dos Estados Unidos.
Mateen, que
foi morto em confronto com policiais, era descrito como violento, mas
trabalhava em uma empresa de segurança. Era funcionário desde 2007 da
multinacional G4S, que presta serviços em mais de 20 centros de detenção
juvenil da Flórida.
Aos 29 anos, o
filho de afegãos havia sido investigado pelo FBI pela primeira vez em 2013,
quando comentou com colegas ter supostos vínculos com terroristas, segundo
afirmou Ronald Hopper, agente especial da polícia federal americana.
"O FBI
investigou o assunto com cuidado, fez entrevistas com testemunhas, o vigiou e
revisou seu histórico criminal", disse Hopper. Mateen foi interrogado duas
vezes. "No fim, não foi possível verificar a fundo seus comentários, e a
investigação foi encerrada."
Nesta
segunda-feira, o diretor do FBI, James Comey, relatou que ele havia feito
afirmações "inflamadas e contraditórias" - dizendo inclusive ter
conexões com a Al-Qaeda e o Hezbollah, dois grupos diametricamente opostos.
À polícia,
porém, o atirador argumentou que os comentários foram apenas uma reação a atos
de discriminação por parte dos colegas. Após dez meses de apurações, o FBI
encerrou o caso.
A segunda
investigação, um ano depois, começou porque Mateen frequentou a mesma mesquita
que um homem-bomba.
Na ocasião,
uma pessoa ouvida pela polícia afirmou que chegou a temer que ele tivesse se
radicalizado, mas que as preocupações haviam se dissipado porque o rapaz tinha
se casado e tido um filho recentemente.
O FBI acabou
concluindo que o contato entre Mateen e Moner Mohammad Abusalha, um cidadão da
Flórida que se juntou ao autoproclamado Estado Islâmico na Síria, tinha sido
mínimo e não constituía ameaça.
Embora
estivesse no radar do FBI, Mateen não estava na lista oficial de pessoas
suspeitas de ligação com o extremismo, e, por isso, era legalmente apto a obter
licença para portar armas, de acordo com os registros da Flórida.
Após o ataque
à boate Pulse, os agentes americanos agora investigam se ele realmente tinha
laços com extremistas islâmicos - antes ou durante o atentado, ele ligou para o
serviço de emergência jurando lealdade ao Estado Islâmico.
Além das
suspeitas do FBI, Mateen respondeu na Justiça por episódios de violência
doméstica contra sua então mulher, Sitora Yusufiy, com quem esteve casado entre
2009 e 2011. Ela disse ter apanhado dele em diversas ocasiões.
Um ex-colega
de trabalho, Daniel Gilroy, disse à imprensa americana que o atirador
"falava em matar gente" e tinha comportamento intolerante.
Gilroy disse
ter se queixado à empresa em que trabalhavam - a G4S afirmou que os
antecedentes de Mateen foram verificados antes de sua contratação, em 2007.
Mesmo sendo
alvo de investigações, Mateen tinha a licença D2723758, que autorizava a
possuir armas. Ela expiraria apenas em 14 de setembro de 2017, segundo
registros do Departamento de Agricultura e Serviços do Consumidor da Flórida -
o Estado americano com a maior porcentagem de civis armados.
Segundo a
Gunpolicy, uma organização especializada política de armamentos, 51,2% das
residências da Flórida têm ao menos uma arma de fogo.
Só no ano
passado, 885 mil armas foram vendidas para pessoas físicas, de acordo com dados
do governo do Estado - 109 mil a mais que no ano anterior.
O direito de
portar armas é garantido nos Estados Unidos pela Segunda Emenda da
Constituição, que vigora desde dezembro de 1791.
A GunPolicy e
outras organizações que estudam o tema estimam que haja 270 milhões de armas
nas mãos de civis no país. A população americana é de cerca de 316 milhões de
habitantes.
A Lei Nacional
de Armas regula o comércio, o porte e o uso de armas na esfera federal, mas
cada Estado tem legislações específicas sobre o tema.
A GunPolicy
classifica a legislação da Flórida como "permissiva" - ela foi
aprovada em 1987 e revista em julho de 2012, quando a compra de armamento foi
facilitada e os custos da burocracia para obter o porte de arma, reduzidos.
A legislação
determina que civis não podem possuir metralhadoras e armas automáticas
fabricadas antes de 19 de maio de 1986. Mas eles podem adquirir armas
semiautomáticas - como por exemplo revólveres, pistolas, fuzis e munições
(inclusive de calibres pesados, como o 0.50).
Não é preciso
ter licença para praticar tiro ao alvo. Portar uma arma o tempo todo, porém,
demanda uma autorização especial: para consegui-la, é necessário apresentar uma
justificativa - como estar com a vida ameaçada ou trabalhar com transporte de
dinheiro ou documentos importantes.
Fuzil AR-15
Marteen tinha
licença para ter um fuzil AR-15 por trabalhar na área de segurança. Além dessa
arma, ele possuía uma pistola e "uma quantidade desconhecida de
munição", segundo afirmou o chefe de polícia John Mina logo após o ataque
à boate Pulse.
O AR-15 foi o
mesmo fuzil utilizado para matar estudantes do colégio de Sandy Hook, em
Connecticut, em 2012, espectadores que assistiam a um filme do Batman em um
cinema do Colorado no mesmo ano e pessoas que estavam em um centro comunitário
de San Bernardino, na Califórnia, em dezembro passado.
A arma também
é bastante popular entre traficantes de drogas que operam no México, segundo a
Procuradoria-Geral do país.
"Como
alguém com esse histórico, depois de ter sido interrogado pelo FBI três vezes
por possíveis vínculos terroristas e ser acusado de violência doméstica pela
ex-mulher, pode ter uma arma de assalto?", questionou o parlamentar
William R. Keating, do Partido Democrata.
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