EDUCAÇÃO: Aumenta o número de professores que abandonam as salas de aula
O Jornal Nacional começa a apresentar nesta segunda-feira (02), uma
série especial de reportagens sobre a situação dos professores no
Brasil.
É uma profissão que todo mundo elogia, todo mundo concorda que é
fundamental, mas que tem despertado o interesse de um número cada vez
menor de brasileiros. Os motivos disso estão em discussão na reportagem
da Graziela Azevedo e do Ronaldo de Sousa.
O Brasil tem uma necessidade urgente na escola. O país tem uma
promessa: "Nosso lema será: Brasil pátria educadora”, afirmou a
presidente Dilma Rousseff no discurso de posse.
E um grande desafio: “O apagão já começou há muito tempo. O déficit de professores nas áreas de química, física, matemática e biologia é da ordem de 150 mil professores” conta o diretor do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos.
E um grande desafio: “O apagão já começou há muito tempo. O déficit de professores nas áreas de química, física, matemática e biologia é da ordem de 150 mil professores” conta o diretor do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos.
“Eu fiquei dois anos sem professor de matemática. Na 5° e na 6°
série. Então até hoje eu tenho muita dificuldade”, conta a estudante
Larissa Souza.
“Fiquei trocando de professor de história na 8° série cinco vezes”, reclama um aluno.
Aqueles que poderiam ser futuros professores também estão sumindo dos cursos universitários de formação.
Aqueles que poderiam ser futuros professores também estão sumindo dos cursos universitários de formação.
Acontece nas faculdades particulares: “Na licenciatura de pedagogia,
sempre no primeiro semestre é lotada. São 60, quase 70 alunos e vai
diminuindo. O pessoal do 6°semestre, nós temos 10 alunos”, explica
Carolina Gato, estudante de Matemática e Pedagogia.
Nas universidades públicas a desistência também é notória: “Porque as
lacunas começam a aparecer, então coisas que deveriam ter aprendido no
ensino médio não aprenderam e aí chega na hora da prova tira zero, tira 2
na prova. Vira uma bola de neve e abandona o curso”, conta Rebeca
Omelczuck, estudante de Física.
Mas e quem ficou? Como estão os professores que levaram seus cursos até o fim e estão encarando as salas de aula?
É o que o Ministério Público quer descobrir. Em Novo Gama, município
pobre e vizinho à Brasília, as promotoras de justiça mobilizaram mães,
pais, servidores públicos e conselheiros da cidade para obter respostas.
A auditoria cívica é o nome que o Ministério Público deu para o
trabalho dos cidadãos que querem melhorar a educação na sua comunidade.
Um trabalho que ao Jornal Nacional acompanhou.
Trazendo questionários e vontade de conhecer melhor as escolas públicas, eles se espalham. Parte da tarefa é conversar com os professores. As carências vão aparecendo.
Trazendo questionários e vontade de conhecer melhor as escolas públicas, eles se espalham. Parte da tarefa é conversar com os professores. As carências vão aparecendo.
“Falta tudo. Igual folha para tirar cópia para a prova, por exemplo. A
gente tem que pedir para os meninos, tem que ir comprar. Chove e a sala
fica praticamente alagada”, conta a professora Marta Costa Alves.
Uma realidade tão dolorida que as palavras começam a vir acompanhadas de lágrimas.
Marta Giovana Costa Alves, professora: Quando me deparei em uma sala de aula e vi as dificuldades ali eu não queria estar mais ali.
Uma realidade tão dolorida que as palavras começam a vir acompanhadas de lágrimas.
Marta Giovana Costa Alves, professora: Quando me deparei em uma sala de aula e vi as dificuldades ali eu não queria estar mais ali.
Jornal Nacional: Você se sente sozinha?
Marta: Nossa.
Assim, à flor da pele, a professora confessa não se sentir mais um modelo para os seus alunos.
Marta: A criança tem que olhar pra mim e ver em mim futuros, sonhos. E eu acredito que as crianças não estão conseguindo ver no professor mais isso.
Jornal Nacional: O que elas veem?
Marta: Um professor cansado, desmotivado, triste.
Marta: Nossa.
Assim, à flor da pele, a professora confessa não se sentir mais um modelo para os seus alunos.
Marta: A criança tem que olhar pra mim e ver em mim futuros, sonhos. E eu acredito que as crianças não estão conseguindo ver no professor mais isso.
Jornal Nacional: O que elas veem?
Marta: Um professor cansado, desmotivado, triste.
A entrevistadora, que também é professora, desaba junto.
Jornal Nacional: E a senhora chora por que?
Pesquisadora: Porque são 23 anos, quase aposentando, e as palavras dela são as minhas
Jornal Nacional: E a senhora chora por que?
Pesquisadora: Porque são 23 anos, quase aposentando, e as palavras dela são as minhas
Depois da entrevista, a professora Marta enxugou as lágrimas e voltou
para a sala de aula, mas muita gente que se forma nem chega a entrar em
uma. A desvalorização da profissão é o grande motivo. Para ganhar mais
com menos estresse, os professores acabam fora das escolas.
A conclusão é de um pesquisador que cruzou os dados de vagas
oferecidas e docentes formados ao longo de duas décadas. O levantamento
mostrou que, com exceção da disciplina de Física, o número de docentes
formados daria para atender a demanda no país.
“Não faltam professores formados então o que está acontecendo é que
essas pessoas se formam e ou não ingressam na profissão ou ingressam e
se desestimulam e saem. Enquanto um professor formado em nível superior
ganhar metade do que ganha um economista, do que ganha um advogado, do
que ganha um jornalista, quer dizer, não tem como atrair a pessoa para a
profissão”, afirma o pesquisador da USP Marcelino de Rezende Pinto.
Para o novo ministro da Educação a valorização do professor passa por aumento de salário.
“Se você não tiver salários com perspectiva de aumento de salário, você não vai ter as melhores vocações se dedicando ou escolhendo o magistério como sua profissão”, conclui o ministro da Educação Cid Gomes.
“Se você não tiver salários com perspectiva de aumento de salário, você não vai ter as melhores vocações se dedicando ou escolhendo o magistério como sua profissão”, conclui o ministro da Educação Cid Gomes.
O piso da categoria para 40 horas por semana, passou este ano de R$
1.617 para R$ 1.917. Mas, para a Confederação Nacional dos Trabalhadores
em Educação, deveria ser de pelo menos R$ 2.900. Sem falar que nem
todos os estados pagam o que a lei determina.
O resultado é o abandono da profissão. Oferta de emprego em empresas e bancos não falta.“Eles vivem batendo na sua porta, oferecendo salários muito atraentes e que acabam levando muitos colegas da física para outras áreas”, conta o estudante de Física Carlos Otobone.
Mas é na sala de aula que os bons professores precisam estar. Disso ninguém tem dúvida.
“Temos que pensar de fato em uma política integrada que tem como elemento central o professor porque o pessoal discorda de tudo, mas há um consenso: o professor faz a diferença”, diz Marcelino.
Veja o vídeo: http://g1.globo.com/jornal-nacional/edicoes/2015/02/02.html
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