Brasil precisa educar jovens e adultos para incluí-los no desenvolvimento, apontam debatedores
A educação de jovens e adultos no Brasil precisa ser
acelerada para viabilizar a inclusão social e o desenvolvimento do país.
Esta foi uma das principais conclusões da audiência pública
realizada na Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE), nesta
quinta-feira (10). O entendimento comum entre os debatedores foi de que,
a despeito dos avanços em escolaridade nas últimas décadas, o país
precisar avançar no processo de educação de jovens e adultos para ser
capaz de atender as exigências da sociedade contemporânea, em que todos
os processos são intensivos em conhecimento e tecnologias.
Quase metade da população brasileira (49,25%) com 25 anos ou mais não
tinha o ensino fundamental completo, segundo dados do Censo 2010. O
percentual representava 54,5 milhões de brasileiros, expressando o
tamanho do desafio que o país necessita enfrentar no campo da educação
de jovens e adultos.
A audiência foi proposta pela senadora Fátima Bezerra (PT-RN), vice-presidente da comissão, que também dirigiu os trabalhos. O
tema em debate foi "Educação ao longo da vida na perspectiva da
educação de jovens e adultos". Outro objetivo foi divulgar a realização
da Confitea Brasil + 6, a Conferência Internacional de Educação de
Adultos, que será realizada no Brasil, em abril do próximo ano. Será a
segunda vez que o Brasil sediará a Confitea, iniciativa liderada pela
Unesco. A primeira ocorreu há seis anos, em Belém (PA).
— Aqui damos o pontapé no que diz respeito à mobilização para a
Confitea. Queremos reafirmar aos movimentos sociais, às entidades da
área de educação, ao governo, estados e municípios que a Comissão de
Educação que ser parceira frente aos desafios da educação, inclusive no
campo específico do debate de hoje, a educação ao longo da vida — disse
Fátima Bezerra.
Exclusão
O representante do Ministério da Educação da Educação, Paulo Nacif,
destacou as ações da pasta como parte da preparação para a nova
Confitea. A seu ver, o atraso do país em relação à escolaridade da
população ainda é reflexo do escravismo e de padrões históricos de
exclusão. Salientou ainda que o tema é prioritário, mas reconheceu que
os esforços precisam ser ampliados. O programa Educação de Jovens e
Adultos (EJA) atende cerca de 4 milhões de alunos, apenas 5% do público
potencial.
— A educação de jovens e adultos tem que ser do tamanho do Brasil e
ser capaz de atender a esses 81 milhões de brasileiros que não tiveram o
direito à instrução na idade certa. Sabemos que a educação corre ao
longo da vida e que, para o Brasil, esse é um desafio — reconheceu.
Em Belém, há seis anos, foi aprovado o Marco de Belém, destacado
pelos participantes da audiência como um documento que estabeleceu nova
visão sobre a educação de jovens e adultos. Segundo Timothy Ireland,
coordenador da Cátedra Unesco de Educação de Jovens e Adultos, na
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), um dos princípios validados
afirma a educação como direito de todos, em qualquer fase da vida, não
apenas durante a infância e adolescência.
— Esse direito não pode ser reduzido à alfabetização nem ao ensino
fundamental ou médio. A educação abrange todas essas fases formativas,
mas vai muito além. Engloba todo o processo de aprendizagem formal e
informal, o que acontece nas escolas e outros espaços em que a pessoa
considerada adulta desenvolve suas capacidades e conhecimentos e amplia
suas competências técnico-profissionais — afirmou Ireland.
Humanismo
Catarina Santos, representante da Campanha Nacional pelo direito à
Educação, salientou ainda que o “aprendizado ao longo da vida”, nos
termos do Marco de Belém, corresponde a um marco conceitual e a um
princípio organizador de todas as formas de educação que se baseia em
“valores inclusivos, emancipatórios, humanistas e democráticos, sendo
abrangente e parte integrante da visão de uma sociedade do
conhecimento”.
— Ali foi lançado o desafio aos governos e à sociedade civil, para
que trabalhem juntos visando garantir o direito à educação e à
aprendizagem e além disso, garantir um futuro viável para todos —
destacou.
Catarina afirmou que o Marco de Belém deixou claro que a aprendizagem
e a educação de adultos representam “investimento valioso, que resulta
em benefícios sociais por criar sociedades mais democráticas, pacíficas,
inclusivas, produtivas, saudáveis e sustentáveis”. Por isso, afirmou, é
necessário um investimento financeiro adequado para garantir a oferta
de aprendizagem e educação de adultos de qualidade.
Metas
Maria Edineide de Almeida Batista, gestora da área de educação, que
representou a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação
(Undime), destacou os desafios que o país já venceu na área de educação,
como a universalização do ensino fundamental. Porém, observou que ainda
há muito o que fazer quanto à implantação do novo Plano Nacional de
Educação (PNE), no que se refere às metas de acesso e de melhoria de
qualidade, inclusive no que se refere à educação de jovens e adultos.
Para a representante da Undime, questões essenciais são a pactuação
das responsabilidades entre os entes federativos e o adequado
financiamento para a educação. Ela observou que ainda não chegaram aos
municípios recursos previstos no PNE, como os que serão destinados à
implantação do chamado Piso Aluno-Qualidade e os recurso das receitas da
exploração do petróleo.
Participou também da audiência o diretor-geral de Programas
Educativos e Culturais da Organização de Estados Ibero-americanos (OEI),
Carlos Abicalil. Segundo ele, a entidade está comprometida em apoiar a
realização da Confitea. Também destacou que, do ponto de vista
estatístico, estão mais do que evidenciadas as necessidades de medidas
em favor da educação de jovens e adultos. Porém, disse que demandas só
se transformam em políticas públicas quando ganham expressão por meio da
atuação articulada da sociedade civil.
A senadora Fátima Bezerra, ao abrir a audiência, observou ainda que o
debate sobre a educação de jovens e adultos precisa estar em sintonia
com o PNE, especialmente com as metas 8, 9 e 10, que têm como objetivo
diminuir a taxa de analfabetismo de jovens e adultos, elevar a taxa de
escolaridade para no mínimo 12 anos de estudo e ampliar o acesso ao
ensino para essas faixas etárias, tanto na cidade como no campo.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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