Anvisa tentará barrar aval à 'pílula do câncer'
Brasília - A regra aprovada na
Câmara dos Deputados que abre caminho para produção e uso da fosfoetanolamina
sintética, a chamada "pílula do câncer", mesmo sem aval de pesquisas,
coloca em risco a população, o sistema de regulação sanitária e a reputação da
indústria farmacêutica no País, avalia o presidente da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), Jarbas Barbosa.
"É um precedente perigoso. A
autorização do uso de remédios tem de ser precedida por pesquisa para comprovar
sua eficácia e segurança. Não podemos encurtar caminho apenas recorrendo ao
lobby no Congresso", disse Barbosa. O projeto de lei, que agora vai ao Senado,
prevê que a pílula possa ser usada por paciente com câncer desde que o laudo
médico comprove o diagnóstico e o paciente assuma a responsabilidade.
A substância não tem registro na
Anvisa. Embora o produto tenha sido preparado pela primeira vez há 20 anos em
um laboratório de química, ele nunca foi alvo de pesquisas científicas para
comprovar eficácia e segurança. "Causa estranheza o fato de os
responsáveis nunca terem feito um projeto de análise do produto",
ressaltou ele.
Caso esse pedido tivesse sido
feito, conta, a análise teria saído de forma rápida. "Ele preencheria
precondições para estudo prioritário: é produto inovador, desenvolvido no
Brasil e destinado a uma doença de grande impacto para saúde pública",
observa o presidente da Anvisa. "Estaríamos abertos a essa análise, mas
ela nunca foi requisitada."
Barbosa ressaltou que a
preocupação em torno da aprovação do projeto no Senado é compartilhada pelo
Ministério da Saúde. Juntos, farão um trabalho de convencimento de senadores,
para tentar impedir a aprovação da proposta. "Essa substância não pode nem
mesmo ser de uso compassivo. Para isso, teria de ter passado por algumas etapas
de pesquisa, algo que nunca aconteceu. Pacientes terminais têm de ter seus
direitos respeitados e, entre eles, está a perspectiva do uso de um produto com
o mínimo de qualidade, de segurança", completa.
Ele lembrou que parte dos
pacientes que estão em fase terminal da doença muitas vezes recorre a terapias
alternativas. "Já vi discursos de pessoas que deixaram de fazer
quimioterapia. Algo temerário."
Além de colocar em risco a saúde
do paciente, a liberação do produto pelo Congresso poderia fazer com que o País
tivesse seu sistema de regulação sanitária questionado no cenário
internacional. "Se regras sanitárias podem ser colocadas de lado por ações
de lobby, como garantir a qualidade de produtos exportados?"
Fonte: o jornal O
Estado de S. Paulo.
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