ARTIGO : MOBILIDADE URBANA (ENEM 2015)
Todo final de
ano a preparação para as festas, viagens e o período de chuvas trazem junto
imagens de longos congestionamentos nas estradas e nas ruas das grandes
cidades.
O trânsito se
tornou uma das maiores dores de cabeça para a população. O acúmulo de veículos
nas ruas causa prejuízos, estresse, acidentes e poluição, e tende a piorar nos
próximos anos, caso não sejam adotadas políticas mais eficientes.
O problema
agravou-se nas últimas décadas graças à concentração de pessoas nas cidades, à
falta de planejamento urbano, aos incentivos à indústria automotora e ao maior
poder de consumo das famílias. Isso tudo provocou o que os especialistas chamam
de crise de mobilidade urbana, que acontece quando o Estado não consegue
oferecer condições para que as pessoas se desloquem nas cidades.
Segundo o
relatório “Estado das Cidades da América Latina e Caribe”, 80% da população
latino-americana vive em centros urbanos e 14% (cerca de 65 milhões) habita
metrópoles como São Paulo e Cidade do México. Ocorre que esse aumento contínuo
da população urbana não foi acompanhado de políticas de urbanização e
infraestrutura que resolvessem questões como moradia e transporte.
A má qualidade
do transporte público e o incentivo ao consumo faz a população optar pelo
transporte individual. De acordo com o Observatório das Metrópoles, a frota de
veículos nas metrópoles brasileiras dobrou nos últimos dez anos, com um crescimento
médio de 77%. Os dados revelam que o número de automóveis e motocicletas nas 12
principais capitais do país aumentou de 11,5 milhões para 20,5 milhões, entre
2001 e 2011. Esses números correspondem a 44% da frota nacional.
São Paulo é a
cidade que mais recebeu veículos nas ruas: 3,4 milhões, no período analisado.
Enquanto a população da capital paulista cresceu 7,9% na primeira década deste
século, o número de carros aumentou 68,2%.
Para
especialistas, três fatores contribuíram para o crescimento da frota de
veículos no país: o aumento da renda da população, as reduções fiscais do
Governo Federal para as montadoras e as facilidades de crédito para a compra de
carros.
Como
resultado, na maior cidade do país, o paulistano leva mais tempo indo do
trabalho para casa do que numa viagem para outra cidade. Segundo uma pesquisa
realizada pelo Ibope, 77% dos paulistanos classifica o trânsito como
"ruim" (55%) ou "péssimo" (22%). A pesquisa aponta ainda
que o tempo médio gasto para os deslocamentos diários é de 2 horas e 49
minutos.
Os
congestionamentos causam prejuízos ao país, acidentes e afetam o trabalho de
milhões de pessoas todos os dias. As perdas financeiras, somente no Estado de
São Paulo, foram calculadas pelo governo em R$ 4,1 bilhões por ano.
O custo dessa
crise também afeta o bolso do consumidor. Os caminhões parados no trânsito
gastam mais combustível e fazem menos entregas. As empresas são obrigadas, então,
a gastar mais com o serviço, colocando mais veículos nas ruas e repassando o
custo para o preço dos produtos.
Além disso, há
uma piora da qualidade da saúde dos moradores, uma vez que a fumaça dos
veículos é considerada a maior causadora da poluição atmosférica. As pessoas
sofrem mais de doenças respiratórias e estão mais sujeitas a câncer de pulmão
(pesquisam relatam que a exposição a duas horas no trânsito paulista equivale a
fumar dois cigarros).
Em 1997 foram
criados os rodízios para diminuir a circulação de veículos em determinados
horários na capital paulista. Também foram feitas ciclovias (17,5 km) e
campanhas de conscientização. Mas nada disso resolveu o caos no trânsito.
Também foi
incentivado o uso de motocicletas, que ocupam menos espaço no tráfego. Porém,
elas poluem mais do que veículos novos e são as principais causadoras de mortes
no trânsito. Segundo o “Mapa da Violência 2011”, do Instituto Sangari, o número
de vítimas fatais no trânsito brasileiro subiu 23,9%, de 1998 a 2008; entre os
motociclistas, o aumento foi de 753,8%.
Por isso, cada
vez mais especialistas defendem a mobilidade urbana sustentável. Uma das
principais mudanças seria o investimento em transporte coletivo e o desestímulo
ao individual.
Entre as
medidas sugeridas – e uma das mais polêmicas – está a cobrança de pedágio
urbano. Ele consiste em cobrar uma tarifa dos motoristas que circulem em
determinadas áreas da cidade. O modelo foi implantado pela primeira vez em
1975, em Cingapura, e se espalhou por países europeus.
Em São Paulo,
há projetos que tramitam na Câmara para cobrar motoristas que trafeguem na
região central. As tarifas variam de R$ 1 a R$ 4, valor que especialistas acham
pouco para que a medida dê resultado.
Há ainda
propostas de aumento da malha ferroviária – atualmente, 60% do transporte
brasileiro é feito em rodovias. São Paulo, por exemplo, possui apenas 65,3 km
de linhas de metrô, enquanto Santiago do Chile (com metade da população
paulista) possui 83,2 km e Nova York, 479 km.
Todos esses pontos
são avaliados como soluções para as demais capitais brasileiras e mesmo para
cidades de médio porte, que já enfrentam problemas semelhantes.
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